Eugénio Manuvakola, num debate radiofónico propagado nas redes sociais digitais, debitou um rol de imprecisões históricas não rebatidas, porque é uma fase em que cada um pinta o quadro à sua maneira. Foi um tempo que eu vivi, partilhei, e do qual tenho documentação demonstrativa das bases que impulsionaram o caminho até aos dias de hoje.
A história não é caça de inocentes ou culpados, mas serve para nos posicionar face ao futuro, e mostra-nos claramente que a Reconciliação Nacional não se decreta sem julgar traidores e assassinos, branqueá-los seria um insulto a todos quantos foram abusados pela prepotência pessoal de malfeitores, que mataram e feriram a dignidade de muitos cidadãos, branqueados pela condição de uma farda e uma arma que legitimava o medo onde emergia a insanidade.
Manuvakola afirmou ter sido preso por sul-africanos em 1975, entre Caconda e Caála, isto é mentira, em 1975 os sul-africanos ainda não estavam naquela região, nem nunca estiveram em Angola ao serviço de Daniel Chipenda.
Em 1975 a UNITA não dispunha de uma força militar, ela é organizada nesse mesmo ano na reunião do Kwanza, e as FALA são organizadas por alferes e furriéis que vinham das Forças Armadas Portuguesas. Samuel Chiwale era figura de corpo presente, foi o retrato da demagogia de Jonas Savimbi, foi Waldemar Chindondo que e Samuel Sachiambo, oficiais oriundos do Grupo de Cavalaria (Dragões) de Silva Porto (Cuito), Bié, e ficaram como operacionais de primeira linha, o Chilingutila e o Tchindande, que vinham de furriéis, também, das Forças Armadas Portuguesas.
Um grupo de jovens estudantes, alguns da Mocidade Portuguesa, vinham do Huambo, foram integrados e alguns enviados para Dar-es-Salam, Tanzânia, para receberem treinamento, e é quando se começa a organizar as FALA, braço armado da UNITA. Criou-se então a Base da Cela (Waco Kungo), liderada pelo então capitão Jeremias Cussya, e os alferes Muzuri e Henriques. Foi quando eu assumi o Comando em Porto Amboim, depois de ter estado com Jorge Valentim no Lobito e mais tarde com Wilson dos Santos em Luanda.
Os sul-africanos entram em Angola através do Batalhão Búfalo, constituído por tropas angolanas saídas do Exército Português, lideradas pelo Coronel Santos e Castro, antigo governador do Cuanza Norte, irmão do último Governador Geral de Angola em Luanda, Fernando Santos e Castro.
Mais tarde, já em 1976, é que a África do Sul invade Angola para apoiar a UNITA, já com o comando do general Magnus Malan, Manuvakola, então casado com Florbela Malaquias, com quem tem 4 filhos, pai de Navita N’Golo, surge como próximo de Jonas Savimbi, na qualidade de administrativo, chegando muito mais tarde a secretário geral.
Esta vitimização sempre apregoada invariavelmente pelos membros da UNITA, é uma faceta perene em busca de vitimização, eles são todos família, as desavenças e dissidências advêm todas de conflitos entre parentescos, a UNITA, o PHA, o PRA-JA, são um jogo cruzado de interesses e birras, que a história um dia será implacável com a verdade que tem sido escamoteada a todos os angolanos, sobretudo aos mais novos.
O Problema, que me entristeceu, é que os outros debatentes também não souberam rebater, porque claramente também não sabiam. São estas verdades que precisam ser trazidas à tona, creio que passa por aí a caducidade da nossa herança de um passado tenebroso.