A noite já lá vai,
Despede-se a madrugada,
O alvorecer pinta o horizonte,
E nesta rua vazia,
Na casa de tecto estrelado,
Escutam-se ruídos matinais,
Sopra levemente a brisa com fragrância de saudade,
Reavivando aquela lonjura perfumada,
Que o caminho longe,
Misturado com o cansaço,
Transforma em nostalgia.
Aquela terra ocre empoeirada,
A serra verdejante e sumptuosa,
O rio de água barrenta,
A sacola de zuarte com o peso do saber,
A bola de meia no recreio,
A esteira e o cambriquite,
Almofada de chipipa,
Colchão de palha de milho,
Onde repousava a felicidade,
Nesta viagem atribulada,
Onde tudo tive e tudo perdi,
Restam os livros que li,
Os filmes que assisti,
Recordo a tontice do pecado,
Mas ainda vejo no meu olhar os olhos dela,
O raio fulminante do sorriso,
Que em cada entardecer me embriagou,
Foram açoites de descobertas,
Esplendor de um sentir infinito e inexplicável,
A ansiedade que embalava o sonho,
Até que a pele ardeu e queimou,
Ese rasgou naquele momento sublime,marcado como figura rupestre,
Que vive e sobrevive no pensamento,
Sofrido da partida inesperada,
Que é bálsamo da vida,
Que nesta manhã de que desponta,
Sentado nesta praça onde tantos como eu,
Aguardam o reencontro,
Com quem nunca largou o sonho meu.
Kuma Gomes