O ministro João Melo publicou na passada segunda-feira, no jornal português Diário de Notícias, um trabalho jornalístico de grande rigor e alcance, uma peça literária indispensável à felicidade das angolanas e angolanos, inclusive quem não está a receber as mordomias da Assembleia Nacional, onde o autor teve assento 15 anos ao longo dos quais produziu muita e proveitosa legislação.
O trabalho de grande fôlego foi publicado num dos títulos do patrão da extrema-direita mediática, o senhor Galinha. Em troca ofereceram ao Jornal de Angola um estudo do padre Anselmo Borges a perguntar e se Deus não existisse? Malandrice. Porque a questão não é se existe ou deixa de existir. O problema é se frequentamos ou não religiões. Quem frequenta, acredita. Quem consegue libertar-se da ditadura dos deuses, não acredita.
Depois há os que não frequentam essas coisas. Para esses, não existe nem deixa de existir. Tanto papel gasto para nada. O senhor padre até invoca Brecht, poeta e dramaturgo, que qualifica de marxista. Lá está, fala de uma fatia da Humanidade que tem os seus deuses: Marx, Lenine, Mao Tse Tung e derivados, como Trotsky ou Estaline. Uma constelação de deuses que manda fama. Não frequento. Nem Deus nem Família nem Autoridade. E desta casta somos muitos. Qualquer dia acabamos com o poder e seus instrumentos, para todo o sempre.
O ministro João Melo intitulou o seu notabilíssimo texto de “África – o ano de todas as eleições”. Um portento. Uma argúcia que nem Jacques dos Santos, no seu melhor de motorista do RI20, era capaz. O bêbado da valeta e agente de Adalberto da Costa Júnior, Reginaldo Silva, nunca na vida era capaz desta performance. Feliz o povo que tal ministro tem.
O autor deste milagre jornalístico, no início de 1975 entrou na Redacção da Emissora Oficial de Angola (RNA) com uma mukanda na mão, que me entregou respeitosamente. Era do meu amigo e camarada Hélder Neto. Tinha poucas palavras: “Este miúdo é filho do nosso camarada Kamaxilu. Ele quer ser jornalista, admite-o na Rádio. No fim, ele assinava com um V, em cima da letra uma estrela e depois a palavra CERTA. Em baixo, o nome: Hélder. Queres ser jornalista? Quero. Então senta-te naquela secretária. E apontei para uma que estava vazia, mesmo à minha frente, entre o Quinta da Cunha e o Pena Pires. Quando? Agora! Ele sentou-se, um tanto a medo. Chegou a ministro e como ele merece!
No texto do Diário de Notícias, diz-nos quando e em que países há eleições durante este ano, no continente africano. Onde elas vão realizar-se, onde são vãs promessas, onde não passam, de maldosas intenções. Que argúcia! Que profundidade de análise! Bendita Pátria que tal filho tem. Depois do calendário e seus comentários profundíssimos, o ministro João Melo vê assim o acto eleitoral de Agosto:
“As eleições no Quénia deverão ser das mais bem-sucedidas do continente, à semelhança do que vem acontecendo nos últimos anos. Devido, entre outros factores, à crescente independência do poder judicial, o funcionamento da democracia queniana tem registado uma notória e comprovada evolução.
Quanto às eleições em Angola, o Africa Center for Strategic Studies afirma que as mesmas deverão ser apenas “uma mera formalidade”. Para a referida organização, tal deve-se ao ‘controlo da arquitectura institucional’ por parte do partido no poder. O tempo o dirá.”
Como não sou estúpido de todo, quis logo saber o que é isso doAfrica Center for Strategic Studies, para onde o ministro João Melo empurrou a responsabilidade da opinião das eleições em Angola. Isto vai dar uma maka mundial. Onde me fui meter.
O Africa Center for Strategic Studies é uma prestimosa instituição do Pentágono, nome pelo qual é conhecido o Departamento de Defesa dos EUA, responsável pela coordenação e supervisão de todas as agências e funções do governo directamente relacionados com a segurança nacional e com as suas forças armadas. O João Melo cita alto e bom som!
Na página da prestimosa instituição da inteligência militar ianque vem publicado um texto intitulado “As Eleições Complexas de 2022 em África: Restaurando Processos Democráticos”. Tem o mesmo calendário engendrado pelo ministro João Melo. Os mesmos comentários sobre os mesmos países. Copiaram o nosso génio. Sobre Angola, escrevem:
“O Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) mantém o controlo contínuo sobre a política angolana desde 1975 e está empenhado em garantir que assim continue, após as eleições de 2022, quando o presidente João Lourenço se candidatar a um segundo mandato. O MPLA persegue sistematicamente este objectivo através de uma série de manobras desajeitadas que maximizam o seu controlo sobre as estruturas do Estado. Através da sua profunda influência nos Tribunais, o MPLA tem desafiado a selecção de novos líderes da oposição, nomeadamente Costa Júnior da UNITA e Abel Chivukuvuku da PRA-JA Servir Angola. Isso cria obstáculos burocráticos adicionais à oposição, que prometeu formar uma coligação unificada nas eleições de 2022, a Frente Patriótica Unida.
Citando a pandemia, o MPLA não realiza eleições autárquicas há mais de três anos, negando o ímpeto da oposição antes das eleições presidenciais. (…) Ao forçar revisões constitucionais através da legislatura dominada pelo MPLA, a contagem de votos para as eleições de 2022 deve ser feita centralmente e não a nível local, desafiando as melhores práticas eleitorais, reduzindo assim a supervisão e responsabilização dessas contagens. Os líderes da sociedade civil também estão preocupados que Lourenço use as revisões constitucionais como justificação para reajustar o relógio limite de mandato.
Embora o controlo do MPLA sobre a arquitetura institucional possa conseguir manter seu domínio sobre a política angolana, esta não é uma estratégia sustentável para o país em geral. Angola viveu seis anos de contracção económica apesar da abundância de recursos naturais. (…) A combinação de frustrações políticas e económicas levou a uma série de protestos antigovernamentais em Luanda, que foram reprimidos pelas forças de segurança angolanas usando balas reais. Em suma, o que poderia ser uma das eleições mais importantes do continente – sinalizando um compromisso com uma reforma genuína, participação política mais inclusiva e respeito pelo Estado de Direito – provavelmente não passará de uma formalidade”.
Os autores desta cópia do trabalho piramidal do ministro João Melo dizem que o MPLA não realiza eleições autárquicas há mais de três anos. Mentira. Dizem que em Agosto vamos ter eleições presidenciais. Mentira. Dizem que os votos não serão contados nas assembleias de voto. Mentira. Tudo mentira. Quem são os autores do copianço? Joseph Siegle. Tal como o ministro João Melo também é doutor. Dirige no serviço do Pentágono “o programa de pesquisa que produz resumos de segurança africana, documentos de pesquisa e relatórios especiais que contribuam para enfrentar os desafios de segurança em África”.
O copianço é também da responsabilidade da senhora Candace Cook, perita em eleições no continente africano, boa governança, limites de mandatos presidenciais e transições democráticas. Antes de ser recrutada para o Africa Center for Strategic Studies do Pentágono, serviu no Gabinete de Democracia, Direitos Humanos e Trabalho do Departamento de Estado. Também no Gabinete de Assuntos Africanos, com foco na África Central. A senhora Cook tem um mestrado em estudos de segurança nacional com ênfase em segurança africana.
O copianço dos dois agentes da inteligência militar do estado terrorista mais perigoso do mundo (EUA) foi publicado numa secção chamada HOLOFOTE! Grande maka à luz de todos os sóis, lâmpadas, lamparinas e holofotes.
Calma aí! Está tudo lixado. O precioso texto do ministro João Melo, publicado na segunda-feira no Diário de Notícias de Lisboa, saiu hoje no Jornal de Angola. Sem tirar nem pôr. A maka está a virar guerra sem quartel.
Desculpa, muita desculpa, caras e caros leitores. Afinal os agentes da inteligência militar do Pentágono escreveram e publicaram o seu texto no dia 11 de Janeiro: Uma semana antes do ministro João Melo. Assim, quem copiou foi ele. Só mudou mesmo a parte que dizia respeito a Angola. E com o vigor e a argúcia que se lê. As coisas estão difíceis mesmo nas grandes potências. Agora só dão dinheiro a quem mostra serviço. O ministro João Melo não esteve com meias medidas. Reproduziu o texto de Joseph Siegle e Candace Cook em dois jornais. Ganha a dobrar! A Canducha, minha companheira das noites de vício e pecado, bem me dizia: Viver não custa nada. O que custa é saber viver.
Estou de férias. Deixem-me descansar.