Repetição fatal

ByKuma

20 de Janeiro, 2022

No palco urbano iluminado de civilização e democracia, a estreia em 1992 do ensaio da desgraça foi um filme de terror de consequências fatais, ceifou vidas, consumiu recursos, e sobraram escombros e chagas sociais irreparáveis marcadas pela morte e tantos mutilados.

O enredo é o mesmo em 2022 mas com outros protagonistas, o palco é o mesmo, embora mais refinado pelo modernismo Hollywoodesco e novos apetrechos mais sofisticados, na realização em vez de Jonas Savimbi temos Adalberto Costa Júnior, os atores em vez de Salupeto Pena, Jeremias Chitunda, Ben Ben, Alicerces Mango, temos Simão Dembo, Adriano Sapiñala, Liberty, Navita e Nélito Ékukui, apenas o mesmo realizador e diretor de artistas, Kamalata Numa, o general inadaptado à disciplina da exigência de umas Forças Armadas regulares, pela sua característica rural. Também mudaram as Damas de Honor (Madrinhas de Guerra), em 1992 tinham Fátima Roque e o BANIF, em 2022 têm Isabel dos Santos e a sua teia mafiosa.

Na estratégia e na logística os nomes pouco mudaram, mas estão mais refinados e têm um leque alargado de aliados, José Eduardo dos Santos com o seu objetivo de impunidade, fez também da elite déspota do Galo Negro marimbondos, libertou empréstimos bancários a fundo perdido, permitiu o garimpo em zonas demarcadas, e deu-lhes a exploração de inertes no boom da construção, são esses empresários da “tuji” que reclamam da fome porque a moralização que João Lourenço impôs na sua governação subtraiu-lhes as mordomias que os silenciava pela conveniência.

Em 1992 Jonas Savimbi sentia-se confortável na ruralidade, queria o Poder pelos compromissos assumidos com os especuladores internacionais, tinha as autoridades tradicionais prisioneiras do medo e viajava para Paris e Nova York, e com mais assiduidade a Pretória, para acerto de objetivos. Em 2022 Adalberto Costa Júnior é mais urbano, por incumbência mais ambicioso, dispõe de fundos quase ilimitados, e alienou uma rede terrorista cibernética capaz de desafiar a perícia de Serviços de Inteligência, e conta de forma indisfarçável com o conluio de membros do clero católico, e é sobejamente conhecida a sua ligação a Roma. Acresce agora a que veio à superfície a sua dependência de conselheiros da subversão em África e do capital especulativo de Singapura, quando se abre expectativas da valorização do petróleo, e quando Angola é reconhecida internacionalmente pelos feitos conseguidos na credibilidade económica, que vai com certeza desenvolver o país e criar emprego de qualidade.

Tão criminoso quanto esta permanente agressão ao Estado de Direito, e afronta à tranquilidade pública, seria o Governo não interpretar as consequências que advêm destes agitadores, e não agir em conformidade e estancar através de medidas de exceção, para devolver a ordem e segurança que provem da anarquia semeada diariamente.

Seriam precisas muitas páginas para descrever a dor que vai na alma das vítimas de Savimbi, muitas estão vivas e ninguém lhes dá voz, mas para lá do medo, já há vítimas de ACJ, e se houve milhares de pessoas confinadas na Jamba como escravos, há hoje ao redor de Luanda uma multidão deslocada a viver com um prato de pirão, à espera do prometido que os pode levar no desespero, para o abismo. Temo como Ovibundo e ancião da UNITA, que gente boa que está dentro se alheie desta teia assassina, conheço gente boa, idosa e jovens que querem Paz, esforçaram-se para servir Angola, e estão prisioneiras de um Sistema em que o Galo Negro monopolizou a Oposição. Basta neutralizar a oligarquia familiar, encontrar-se-ão caminhos alternativos em liberdade