O cantor e compositor angolano Paulo Flores tinha “decretado” a sua ‘Independência’ quando, em maio de 2021, lançou o álbum com esse título no Coliseu de Lisboa, em Portugal. Três meses depois, ao quinto dia do Festival InterMEDio, a 27 de agosto, na cidade de Loulé, no Algarve, voltou a galvanizar o público com as suas novas músicas, contando com as sonoridades do guitarrista Manecas Costa e do baterista Ivo Costa. E é com esse entusiasmo das plateias que se prepara para subir, dia 4 de setembro, ao palco 25 de Abril, pelas 18h30, na Festa do Avante, no Seixal, na margem Sul do rio Tejo.
Paulo Flores vai ter a seu lado em palco na festa maior do Partido Comunista Português (PCP) os amigos Yuri da Cunha e Prodígio, o rapper da Força Suprema, com quem gravou o álbum ‘A Bênção e a Maldição’.
O cantor, que é considerado um dos maiores embaixadores da música angolana, que vai para lá da Semba, o seu estilo musical de raiz, vai mostrar aos espectadores da Festa do Avante um álbum com músicas que são uma carta aberta ao trauma, que pode ser sobrescrito como uma verdadeira libertação.
‘Si Bu Sta Dianti na Luta/Xica Feia’, um dos temas de ‘Independência’, é uma homenagem sentida à “condição da mulher africana e do mundo inteiro” – e também agora do Afeganistão, como Paulo Flores fez questão de cantar há poucos dias em Loulé, improvisando – sem poupar no detalhe e na extensão das violências a que o mundo islâmico sujeita as mulheres.
Independência sem violência
Em declarações proferidas em maio, aquando do lançamento do trabalho discográfico, Paulo Flores destacou o facto de que para a maioria dos angolanos, “o livre pensamento ainda é um direito por conquistar no país”.
As músicas do seu álbum são assim um testemunho pessoalíssimo dos 45 anos de independência de Angola, mas também uma celebração única dos 48 anos de vida artística do músico, natural do Cazenga, uma cidade dos arredores de Luanda.
“Este álbum procura essencialmente uma reflexão que, mais do que música, tinha a ver com o conteúdo e com o texto da mensagem que eu queria passar, que tem a ver com as dependências sobre as quais a nossa independência ainda está dependente. A nossa independência não vai ser pelas armas, não vai ser pela violência. Vai ser pelo pensamento, que é o que mais nos é privado”, frisou o artista.
E onde foi o cantor buscar inspiração? Paulo Flores confessa tudo, numa entrevista ao site DW. “Lembrei-me do álbum ‘Independência’ do Teta Lando. Achei que seria interessante falar com o Yuri [da Cunha], ele também gostou dessa ideia e refletimos sobre o facto de sentimos ainda as mesmas carências que Teta Lando cantava quando lançou o ‘Independência’ dele”, rematou.