O pintor angolano Guilherme Mampuya Wola e a designer e marketeer Filipa Galante são amigos há mais de dez anos e ela foi a responsável por ele expor algumas das suas obras nos décors de ‘A Única Mulher’, a novela de maior sucesso de sempre no canal português TVI, que teve três temporadas e integrava inúmeros atores angolanos e ainda africanos de outras nacionalidades de língua oficial portuguesa.
Há uma semana, numa das suas frequentes viagens (quase mensais) a Portugal – para “comprar tintas em quantidade e qualidade”, como confessa o pintor à Tribuna de Angola -, os amigos reencontraram-se e, desse feliz encontro, nasceu uma ideia… que já se transformou em ponto turístico numa aldeia do Oeste, nos arredores de Torres Vedras, em Portugal.
“A Filipa tinha aqui no Turcifal (Torres Vedras) um espaço com uma fachada toda branca, numa rua de casas todas brancas e eu disse-lhe: ‘Olha, vou pintar aqui um bocadinho’. Mas depois deu-me um clique, que eu acho que é o momento de epifania dos artistas, e perguntei-lhe se podia pintar um mural de homenagem às eólicas do Oeste, aos galos, às vinhas e à pera rocha, fruta típica desta região.”
A marketeer não é dona do espaço e por isso teve que perguntar aos senhorios se davam autorização. “O Zeca e a Eugénia, os donos do imóvel, não colocaram nenhuma objeção ao desejo do Guilherme, e também meu. Apenas me disseram uma das coisas mais bonitas que se pode ouvir: “Nós só queremos é que seja feliz!”, revela à nossa publicação. A junta de freguesia local também não levantou objeções e os trabalhos começaram.
“PEQUENA PROVOCAÇÃO” ARTÍSTICA
Com vontade de fazer e luz verde dos donos da fachada, Guilherme Mampuya meteu mãos à obra e nasceu arte. “Aquela parede toda branca pedia uma pequena provocação. É tudo muito branco e precisava ali de uma pontinha de cor”, explica o consagrado artista radicado em Angola que, desde há sete anos, se desloca todos os meses a Portugal para “comer coisas boas, como o bacalhau à lagareiro e comprar tintas de qualidade e em grande quantidade”.
E explica porque pintou eólicas, galos, parras, uvas e peras no mural do Turcifal. “Em dez anos de viagens, desde que comecei a vir a Portugal, nunca tinha chegado tão perto das eólicas com aqui no Turcifal. Aquelas ventoinhas fascinam-me e foi por isso que senti o impulso de as homenagear num mural”, conta.
Filipa Galante, entusiasmada com a iniciativa espontânea do amigo Guilherme, decidiu criar um momento único de ‘street art’ e desafiou o saxofonista Ricardo Branco, que atuou enquanto o artista plástico compunha a sua obra.
Defendendo que “a cultura não tem de ser uma coisa de salão e pode existir na rua”, Filipa Galante revela como “com 287 euros em tintas e de forma espontânea pode nascer uma obra de arte disruptiva e que se está a tornar ponto de atração”, refere.
Natural de Uíge, onde nasceu há 46 anos, Guilherme Mampuya Wola é formado em direito pela Universidade de Kinshasa, na República Democrática do Congo. Em 2005, inscreveu-se na União dos Artistas Plásticos Angolanos (UNAP). Um ano depois inicia ao seu percurso artístico, com exposições muito concorridas em Luanda, Benguela, Lisboa, Aveiro, São Paulo, Bruxelas, Milão e Seul, na Coreia do Sul. Em 2008 conquista o prémio Ensa Arte (Concurso de Pintura, Escultura e Fotografia-, para Angolanos e residentes em Angola), um dos mais importantes galardões culturais angolanos.