Carlos Nobre Neves nasceu há quase 46 anos em Angola, mas vive em Portugal desde muito pequeno e toda a gente o conhece como Carlão ou Pacman, dos Da Weasel, uma banda que se tornou uma referência na música hip hop portuguesa.
Nos últimos tempos, o músico luso-angolano lançou o descontraído single ‘Assobia Para o Lado’, tema que deixou a maioria das crianças a trautear a letra e a assobiar a música e que se tornou um sucesso com mais de 5,5 milhões de visualizações, e só na plataforma ‘YouTube’.
Entretanto, Carlão soma e segue em participações televisivas, seja como artista convidado ou jurado em programas de sucesso com o ‘The Voice Kids Portugal’, na RTP1. A aceitação do cantor junto do público corria bem até que recentemente decidiu apoiar um colega e isso trouxe-lhe enormes dissabores: Carlão marcou presença no videoclip dos rappers Tekilla e Papillon e o início da letra da canção incendiou as redes sociais e forçou mesmo o músico a pedir desculpas públicas.
“Não me revejo naquilo”
O busílis da questão foi o início da canção ‘Lendas’ em que o autor fez uns versos que bateram de frente com o público e esse público retribuiu violentamente na internet. No tema, a parte que incendiou os ânimos foi o verso: “Se tu não és mongoloide, deves ter autismo / não quero saber de bandeiras, preconceito ou racismo…”.
Como tinha participado no vídeo, embora não cante, Carlão dirigiu-se a todos os que se sentiram mal com o momento. “Peço desculpa a todos os ofendidos e incomodados pelas palavras ali ditas, nomeadamente aos amigos que tenho com filhos e/ou familiares afetados com Síndroma de Down, autismo, ou qualquer doença física ou mental. Quem me conhece sabe que não me revejo naquilo que ali foi expresso. Quem não conhece, peço que não me julgue com base num episódio que não me define como pessoa”, apelou.
A “acidez” da internet
Ainda em entrevista ao semanário ‘Novo’, Carlão afirmou estarmos numa “altura muito delicada no que diz respeito às redes sociais, esta polarização de tudo. Ou amas ou odeias, ou é um demónio ou é um deus”, salientou, denunciando um lado mais negro, mas presente, das redes sociais: “As pessoas são precipitadas a julgar. Há um mal-estar, uma acidez, uma vontade desmedida de executar em praça pública.”
Sobre o episódio do videoclip dos músicos amigos Tekilla e Papillon, o luso-angolano esclarece: “A nossa postura em relação a estes assuntos tem de ser mais construtiva, de alertar. Cresci a ouvir anedotas sexistas, machistas, racistas, homofóbicas. Hoje em dia, já não é [assim] e ainda bem, mas há resquícios disso tudo em nós”, destacou.