Exposição de Januário Jano alerta para o tema do roubo do património africano

ByTribuna

29 de Junho, 2021

O melhor da cultura angolana está patente na galeria Jean Claude Maier, em Francoforte, na Alemanha, até 14 de agosto. A exposição ‘Arquivo Mestre’, do artista plástico angolano Januário Jano, é uma mostra que conta com o apoio da Fundação Stiftung Kunstfonds, através do programa germânico NeuStart Kultur, e está a gerar um debate essencial para o património artístico africano disperso pelo mundo, que se cifra em mais de 80 por cento.

‘Arquivo Mestre’ é a primeira exposição individual de Januário Jano na cidade alemã e a sequência de espaços retrata a construção e desconstrução de um arquivo, memória e identidade, comunicando com o público através de trabalhos em têxtil, som, vídeo, escultura e fotografia. As suas instalações, como “Mponda Invertido”, são compostas por bolsos, tecidos, estampados, costuras, fios coloridos e outros, e consistem numa extensão do próprio espaço.

Recordar o colonialismo

Com múltiplos registos fotográficos, os espaços da mostra revelam marcas da violência colonial, recorrendo à memória das cruzes cristãs, recordando o uso da religião, e da fé, como bandeira do “trabalho” missionário, que ajudou à colonização africana, facilitou a escravatura e conduziu à desumanização dos povos nativos.

Na exposição, poderemos observar a instalação “Not Stolen Goods”, que consiste na reunião de seis partes compostas por caixas de transporte e fotografias, com o intuito de mostrar objetos de Angola que foram delapidados e roubados durante a época colonial e que se encontram atualmente expostos em museus europeus e da América do Norte.

O debate das obras de arte

Esse tema gerou, aliás, recentemente polémica em França, com o Presidente Emanuel Macron a aprovar uma lei da República francesa que obriga os museus nacionais a devolverem as peças de arte à sua origem em África.

Em Portugal, esse debate causou celeuma quando o deputado André Ventura, do partido radical de direita Chega, no âmbito do agendamento do tema no parlamento luso, afirmou que mandaria, além das obras de arte africana, a deputada independente eleita pelo partido Livre, Joacine Katar Moreira, para a Guiné, a sua terra natal.