Primeiro podia ter sido uma coincidência, ter o bastonário dos advogados Zé Domingos alinhado com as posições mais radicais da UNITA santista. Há liberdade de expressão em Angola e assim cada um é livre de se pronunciar e podem existir coincidências.

Face aos pronunciamentos desta semana do bastonário seguidos de comunicados da UNITA, já não existem dúvidas sobre uma articulação entre o bastonário e a UNITA santista. Articulação que se não é ilegal, é pelo menos anti-ética.

Num dia o bastonário lançou um comunicado bombástico sobre o facto de as polícias mostrarem nas TVs os seus arguidos detidos. No dia seguinte, a UNITA faz o mesmo. O cúmulo da hipocrisia. Se fosse um pilha galinhas ninguém ligava, como são “doutores”, logo começam os gritos. Feliz ou infelizmente, esta prática é comum em todo o mundo democrático. Onde há secretismo dos presos é nas ditaduras. Aí tudo é fechado. Nem se sabe se a pessoa foi presa, está morta ou simplesmente desapareceu pela calada da noite. Nas democracias há este espectáculo mediático. No final do dia é uma garantia de defesa. O conhecimento da face, do caso, implica que a pessoa não desapareça num labirinto prisional. Mas a argumentação não é o mais importante. O importante é a articulação bastonário/UNITA santista.

No dia a seguir, o bastonário lança um forte ataque a um dos seus membros, o advogado David Mendes, figura controversa, mas livre, ódio de estimação da UNITA santista. Com isto quer antecipar-se e desvalorizar o julgamento das “60 toneladas”. É uma jogada de claro esvaziamento de um caso grave. Agora tenta-se arranjar fait divers que distraia como o processo disciplinar a David Mendes. Mais uma estratégia conjunta.

O bastonário tem o direito de ser o que quiser, não tem o direito de instrumentalizar a Ordem dos Advogados tornando-a um instrumento da luta política. Esta politicização da Ordem num momento sensível de construção de uma nova Angola é muito perigosa, melhor seria o Dr. Domingos demitir-se e ir substituir Abel Chivukuvuku nas listas da UNITA.