Pequenos homens

ByTribuna

4 de Dezembro, 2024

Tinha decidido não escrever sobre a visita do Presidente americano a Angola. É um sucesso enorme, mas já tantos falam e escrevem que não vale a pena adicionar. No entanto, a hipocrisia de alguns leva-me a voltar a atrás nessa decisão.

Num primeiro momento, as oposições achavam que um acto divino qualquer ia impedir que Biden viesse a Angola. Só acreditaram mesmo quando viram o avião dos filmes aterrar em Luanda…

Depois disso, convocaram panelaços e manifestações. Tudo rochou. Zero.

Passaram aos disparates menores nas redes sociais, sem cabeça ou estratégia.

De facto, a maré de entusiasmo com a visita de Biden submergia tudo e todos.

O bacharel ACJ mergulhou na profundidade dos oceanos e nem se houve falar dele. Triste destino do herdeiro suposto de Savimbi. Savimbi era recebido por Ronald Reagan na Casa Branca, hoje nem o adjunto do porteiro da Casa Branca recebe o bacharel ACJ.

Eis que do nada em que tem andado, coloca-se em bicos dos pés um personagem, que todos julgávamos amigo dos americanos. O Marques convidado para ouvir Biden, no meio das autoridades angolanas e americanas resolve falar á LUSA e descrever de forma crítica, mesmo mal educada, a visita de Biden e a situação em Angola. Este Marques é outra figura. Já não é o combatente do passado que escrevia com acerto:

“As acções do triumvirato formado pelos generais Kopelipa, e Leopoldino Fragoso do Nascimento e Manuel Vicente encontram terreno fértil numa sociedade onde os cidadãos lutam pela sobrevivência económica, física e moral, sem que prestem a devida atenção à funcionalidade do Estado. Todavia, o descaso da sociedade pelos efeitos nefastos da corrupção e da privatização da Presidência da República pode também criar um vácuo no poder institucional, pelo distanciamento dos actuais dirigentes, que trocaram o povo pelo dinheiro.”

Hoje, o Marques defende estas pessoas que antes atacava, vive numa atmosfera de riqueza e luxo.

Vive muito melhor do que quando escreveu este texto. Mudou de lado. Representa a oposição interna dos antigos santistas, que é exactamente aquela que atacava no passado.

O jornalista da LUSA não sabe disso. Julga o Marques, o mesmo Marques, mas a vida andou e ele mudou. Tem direito a mudar, tem direito a viver como quer. Não tem direito a fingir.

João Lourenço está num processo reformista, esse processo demora tempo, precisa de investimento, de competição. De atracção para o estrangeiro. Não se resolve o descalabro duma sociedade que ocorreu durante quase 30 anos, em 5 ou 6 anos.

Cada um tem de assumir o que é.

Biden não viria a Angola se objectivamente não estivesse a ver um esforço de melhoria, de transição para o Estado de Direito e a Economia livre. Não é num dia, mas há avanços.

Quais são os projectos que o Marques já desenvolveu do princípio ao fim onde experimentou a sua boa governação? Não há.

Mas o melhor de tudo é que ele deu a prova do avanço da democracia em Angola. No meio da recepção a Biden, como confessa o jornalista da LUSA, rodeado por ministros e altas esferas do MPLA, o Marques, depois de abraçar muitos desses ministros, disse o que quis ao jornalista em liberdade, sem ninguém o impedir. Se isto não é um caminho para a democracia, o que é?