Em convalescença, recebi em minha casa, o que me deu uma honra imensa, o Professor Doutor Isaías Afonso, companheiro de repetidas jornadas e outras tantas aventuras, ao longo de 40 anos das nossas vidas. Ele foi alferes na Força Aérea Portuguesa, em Luanda, foi também director da maior escola em todo o Império português, no Cazenga, e dono do colégio José Régio na Samba, único com laboratório de línguas em Angola.
Por meu intermédio esteve duas vezes com Jonas Savimbi, várias vezes com Isaías Samakuva, com Jaka Jamba,e outros dirigentes da UNITA, até que me afastei do Galo Negro quando comecei a escrever um livro e com a pesquisa a levar-me a uma realidade que até então desconhecia.
Herdei do meu pai o conhecimento da fundação da UNITA, e Missão do Elende, junto da minha terra, Ukuma, Huambo, sempre foi um viveiro de dirigentes do Galo Negro, sem que antes tivessem passado pelas Forças Armadas portguesas, ou pela Administração Colonial. Ficou acordado na Acta de Fundação no Umpulo, que a UNITA teria um presidente rotativo, um católico e um protestante, e o primeiro seria católico, Joaquim Ferreira Lambo, o Príncipe Negro, que morreu em circunstâncias bizarras logo de seguida.
Para a organização do Movimento a OPVDCA fez deslocar para o Leste os professores Armando Chilala e Armindo Solunga, e as FALA, braço armado da UNITA, só vieram a formar-se em 1974 com a integração dos alferes e furriéis desmobilizados da tropa portuguesa, Com o Sachiambo a liderar a parte militar, e o Chindondo a parte administrativa, e na operacional chegaram o Tchindande, o Chilingutila, o Numa, o Epalanga, de resto de UNITA não tinham nada, mas deram-lhe corpo e devolveram-lhe os fins para que estava destinada.
É aqui que entra o meu grande amigo Isaías Afonso, de helicóptero viajava para Leste, e em lugares previamente estabelecidos, largava cunhetes de munições, rações de combate, cobertores, fardas e medicamentos, ficando a saber mais tarde que era para a UNITA, que tinham como missão não permitir que o MPLA se expandisse para Leste, e conjuntamente com as tropas de Moisés Tchombé, estacionadas no Luena e no Luau, combatiam as FAPLA.
Já mesmo depois da Revolução do 25 de Abril de 1974 em Portugal, Jonas Savimbi recebeu do Estado Português 10.000 contos (entregues pelo Major Pezarat Correia) para se instalar em Luanda, embora as relações com Portugal se fossem deteriorando com o passar do tempo, o ataque no dia de Natal ao Luau logo a seguir à fundação, em 1966, foi uma acção premeditada para esconder a verdadeira face do Galo Negro.
Ainda assim, Jonas Savimbi, opondo-se à presidência rotativa, foi-se transformando num tirano, com a União Soviética a apoiar claramente o MPLA e os americanos a FNLA através de Mobutu, encostou-se à China e passou a jogar com o pau de dois bicos, mas tudo durava pouco tempo, até que a realidade trouxesse à tona a ignomínia do líder.
A UNITA teve a confiança da China e perdeu-a, teve a confiança dos americanos e perdeu-a, resta-lhe a sobrevivência geminada com especuladores e do saudosismo da Extrema Direita racista que persiste nos escombros do Apartheid da África do Sul.
Enquanto teve a cobertura da luta de libertação Nacional, vivia-se um tempo revolucionário em que se permite uma série de arbitrariedades, mas a trajectória adoptada pela UNITA após a Independência Nacional, é matéria para quem possa assumir as despesas, para levar ao Tribunal Internacional com a acusação de crimes contra a humanidade, e interditar a sua acção política em tempos de Paz e de Democracia.
Hoje temos a continuidade destas ambiguidades assegurada, mas também em queda livre, o bacharel tirano mentiroso psicopata ACJ “Betinho”, foi preparado, modelado, colocado em Angola para cumprir uma missão ao serviços de uma facção da Igreja Católica, mas a sua ambição, megalomania, e ansiedade frenética de Poder, traiu-o e suscitou dúvidas, mas desmoronou-se por completo quando se encostou ao fundamentalismo islâmico e ao narcotráfico, e optou por parcerias com sectores completamente desacreditados em todo mundo.
É neste quadro que nos leva ao passado para entendermos a inadaptação aos tempos da liberdade e da democracia, facilmente concluímos que nada mudou, é a educação e formação do Galo Negro, e assim compreendemos a oposição aos festejos do cinquentenário da Independência Nacional, eles só sairam do silêncio porque João Lourenço lhes secou a teta de José Eduardo dos Santos que deu para no casulo do galo também tivessem nascido alguns marimbondos.