Carta Aberta para um Conterrâneo

ByKuma

14 de Setembro, 2024

Exmo. Senhor
Marcolino Moco
Angola

Caro Senhor

Sou jornalista há 34 anos, já dirigi jornais, já fiz reportagens e entrevistas em 63 países, alguns em plena guerra, do Brasil e Timor Leste, publiquei 3 livros, sempre com o nome profissional de Kuma Gomes.

Nasci em Angola, município do Ukuma, Huambo, tive como professores proeminentes figuras da UNITA, como Armando Chilala e Armindo Solunga, fui preso com 18 anos pela DGS por associação subversiva, com o nome completo de Alcidio Manuel Tomás Gomes, Cartão de Cidadão 004671755HO049, e Passaporte N2746596. 

Aderi à UNITA em 1972 através de uns amigos da Missão Protestante do Elende, no tempo das canadianas Ruth Ruthford e Mary MacDonald, que tinha como emissário de Jonas Savimbi o Século Oseias, por acaso natural, como o senhor de Ékunha, então Vila Flor.

Tenho aversão, sou alérgico à hipocrisia e ao oportunismo, regulo-me pela frontalidade, por vezes chocante, mas tenho pelo meu chão uma paixão que abomino quem o agride.

E por aqui começo a minha resenha de hoje, incrédulo como um falhado que é um ex-Tudo, que teve responsabilidades transversais ao Poder, tenha a ousadia de vir falar em buraco negro o período da Independência até aqui. Este sacudir a água do capote é vergonhoso porque assenta numa traição que vem de longe, aliás manifestada na subserviência demonstrada num almoço na Sede Nacional do CDS em Lisboa,onde esteve como convidado enquanto dirigente da CPLP.

Meu Caro, tem sido invariavelmente um elo da corrente que amordaça perenemente João Lourenço, tem sido um defensor dos delírios do bacharel tirano psicopata ACJ “Bétinho”, é um proscrito enraivecido, e chega ao descaramento de querer apagar o nome popular de Marimbondos, mas a tradução seria de ladrões, saqueadores e corruptos, isto em bom português que o senhor tanto gosta.

O senhor foi um dos que criou, ou ajudou a criar, o fantasma, o monstro do terceiro mandato presidencial, mas que, também seguiu a retórica do bota-a-baixo quando João Lourenço falou em renovação. São estas incoerências que talvez o tenham marginalizado da confiança e relegado ao ostracismo.

Nas entrelinhas não querer minimizar o estridente ruído cumplíce, é mesmo nos meandros das UNITA’s que se fala no seu desejo de ser embaixador em Lisboa, mas mesmo em política onde abundam subterrâneos e areias movediças, há limites balizados pela Constituição e pela Democracia em si mesma, e não pode valer tudo.

Sou seu conterrâneo e contemporâneo, acho que o nosso tempo de ambição já expirou, há novas gerações mais bem preparadas, ninguém é eterno, mas virei a este espaço sempre que o senhor surja com a sua verborreia, como pode criticar o Senhor Presidente da República, alguém que foi de governador a ministro, de alto dirigente do MPLA a primeiro ministro, e nada fez que possamos recordar?

Não, eu não nem nunca me escondi, nunca alinhei em tibiezas, dei muito de mim à UNITA, verti muitas lágrimas de fome, de medo, de sede, resisti até que vi fuzilados grandes amigos como Wilson dos Santos, e tive o meu avô materno assassinado a pontapé por militares das FALA, no cruzamento do Bongo, entre o Longonjo e o Lépi. Pode informar-se, chamava-se Alberto Tomás.

Esses mandantes assassinos são hoje os seus companheiros na seita que odeia João Lourenço.

Cumprimentos.
Kuma Gomes
kuma.gomes@gmail.com