Contributo

ByTribuna

6 de Setembro, 2024

Mais uma vez causou-me estranheza o comunicado da UNITA respondido e comentado por Higíno Carneiro, tudo em relação a comportamentos de 1975.

Do Acordo do Alvor, no Hotel da Penina, no Algarve, saiu um governo de transição em Angola, tripartido, em que a chefia do governo era exercida rotativamente por ordem alfabética.Johnny Eduardo Pinnock, da FNLA, José de Assunção Alberto Ndele, da UNITA, Lopo Fortunato Ferreira do Nascimento, do MPLA. Nessa altura era líder da UNITA em Luanda Fernando Wilson dos Santos, e eu estava na Comissão Conjunta Político Militar, liderada pelo general português Altino de Magalhães. O governo de transição nunca reuniu completo, efetivamente Ndele quase nunca se fez presente, da UNITA estiveram sempre presentes os ministros Jerónimo Wanga da educação, Jeremias Chitunda dos recursos naturais, e esporadicamente António Dembo do trabalho.

O discurso da UNITA, tanto de Jonas Malheiro Savimbi como de Miguel N’Zau Puna, era de um belicismo permanente, e a mobilização treino militar fazia-se a toda a velocidade em vários pontos do Sul de Angola, e nunca cessaram acusações violentas de parte a parte.

A Guerra Civil começou no 1º de Maio de 1975, ainda sob administração portuguesa, neste dia houve em Luanda e arredores milhares de mortos, e o governo de transição nunca mais reuniu em Luanda. Nesta altura já se tinha iniciado a desmobilização de todos os naturais de Angola, das Forças Armadas portuguesas,é quando as FALA, braço armado da UNITA, se estrutura como uma força militar regular,no Kuanza, no Bié.

No dia 11 de Novembro de 1975, na cidade do Huambo, Jonas Savimbi faz uma declaração de independência sem nada a ver com Luanda, chega mesmo a formar um governo provisório, mas durante todos os anos e fases da guerra civil,o Galo Negro nunca teve acesso ao mar, isso dificultou as intenções do seu líder e de Mobuto Sesse Seko.

Não há inocentes, mas há centenas de milhares de vítimas, não só os que morreram e ficaram mutilados, mas, sobretudo,o stress pós traumático do medo, do terror, que ainda hoje pesa na sociedade angolana.

Creio que a ninguém interessa desenterrar o machado de guerra, o mundo mudou, a democracia tem mecanismos para que tudo se resolva, dela emana a autoridade do Povo para que lutas fratricidas não se repitam.

Valorizar um comunicado de uma fracção da UNITA, ainda que seja do líder moribundo, é valorizar um vazio que teima permanecer dentro das regras democráticas.

O passado passou, o futuro é o caminho do presente…!!!