Democracia interna e pluralismo

ByAnselmo Agostinho

17 de Julho, 2024

Gostamos e concordamos habitualmente com os artigos de Ismael Mateus, são equilibrados, bem-escritos e contribuem para uma análise serena da situação. Contudo, não o podemos seguir em relação ao último artigo em que tece loas ao que chama a democracia interna no MPLA. Há aqui um equívoco contextual.

A democracia interna é uma norma de funcionamento interno e pode revestir-se com várias formas. Nenhuma delas implica, como hoje se quer fazer passar, que cada partido se divida em facções ou fracções que se digladiam com veemência. Essa visão abala o princípio da unidade de acção política que deve orientar um partido. O que os partidos devem fomentar é o pluralismo, valorizando a diversidade de opiniões e permitindo que diferentes sectores façam parte dos processos deliberativos de tomada de decisões, sem se tornarem em minipartidos dentro dos partidos. No pluralismo, esses grupos diferentes fiscalizam-se e influenciam-se uns aos outros, evitando decisões unilaterais, no entanto, não se tornam competidores, mas cooperantes, no final do dia.

O MPLA necessita duma profunda reflexão sobre o futuro. Alguns chamam-lhe refundação, outros Nova República, e outras diferentes coisas. Essa reflexão sobre o futuro abrangendo a comunidade política e social independente e chamando-a para dentro das discussões do partido, não pode ser transformada numa luta entre individualidades, perdendo-se o sentido solidário do partido. Luta entre individualidades leva à divisão e quiçá cisão do partido. Este será o resultado da chamada democracia interna no presente contexto de Angola. O que é necessário é uma discussão ideológica, programática, alargada, plural, que, no final, com a participação de todos trace um rumo único. Não nos podemos colar a chavões que na prática significam o oposto do que queremos.

O importante é o pluralismo na discussão e a unidade na acção.