Um cão tinhoso entre boa gente

ByArtur Queiroz

8 de Junho, 2023

Bissau, dia 24 de Junho de 1978. Há 45 anos Agostinho Neto chegou com a sua comitiva à capital da Guiné. Na placa do aeroporto era esperado pelo Presidente Luís Cabral e todos os membros do seu Governo. O último da fila era o ministro da Cultura, Mário Pinto de Andrade, angolano de nascimento e guineense por opção.

Agostinho Neto, depois de abraçado por Luís Cabral, foi cumprimentar todos os governantes das Guiné. Quando chegou frente a Mário Pinto de Andrade os dois envolveram-se num forte e prolongado abraço. Logo após a chegada começou a reunião com o Presidente Ramalho Eanes. No primeiro dia de conversações correu tudo bem. No segundo, nem por isso. Ao fim da tarde, o director do Jornal de Angola, Fernando Costa Andrade (Ndunduma) foi buscar-me ao hotel porque o Presidente Neto queria falar comigo.

Os portugueses querem que Angola lhes devolva as fazendas, os prédios, as empresas. O que digo ao General Eanes? Confesso que já tinha bebido qualquer coisinha por isso não me intimidei no papel de conselheiro informal. Respondi de imediato:

Camarada Presidente, isso é fácil. Eles podem levar tudo mas pagam o transporte desses bens para Portugal. Mas se quiserem as empresas, as roças e os prédios, regressam a Angola e ajudam-nos a construir o país donde nunca deviam ter saído. Outra boa solução é a troca. Os portugueses devolvem os escravos e todas as riquezas roubadas em Angola. Depois levam as roças, empresas e prédios pagando nós o frete.

Neto percebeu o meu ponto de vista, sorriu e depois de uma longa troca de impressões com muitas gargalhadas pelo meio, terminou assim o encontro: Não lhe ofereci nada de beber porque está com um a barriga que parece um balão! Beba menos, camarada!

Podem não acreditar mas segui o conselho do médico. O meu olho esquerdo bebia muito mais do que o direito e cortei-lhe a bebida. De castigo. No dia seguinte, Agostinho Neto disse à delegação portuguesa que todos os bens abandonados foram nacionalizados. Mas o Governo Angolano devolvia tudo aos legítimos proprietários portugueses quando regressassem a Angola. Alguns voltaram mesmo!

Hoje o primeiro-ministro português António Costa desembarcou em Luanda com uma grande comitiva de ministros e empresários. Entre eles, um tal Costa e Silva, mentiroso compulsivo, criado dos seus donos de sempre, infiltrado ao serviço das secretas que mais paguem. Em Portugal diz que foi preso e torturado em Angola. Mais um herói destacadíssimo nas operações contra a Independência Nacional e o Povo Angolano. Fiquei de olho nos abraços, não fosse João Lourenço abraçar o traidor de trazer por casa, como Neto abraçou o seu camarada e compatriota Mário Pinto de Andrade. Que se visse, a baixeza não aconteceu.

Cada povo tem os ministros que merece. Os guineenses mereceram largamente Mário Pinto de Andrade, angolano, fundador do MPLA. Os portugueses, perdidos por cem perdidos por mil. Mais mentiroso compulsivo menos mentiroso, tanto faz. Mais traidor menos traidor é igual ao
litro. Mais canalha menos canalha é a prata da casa, Ainda vamos ter que libertar os portugueses do banditismo político e mediático.

António Costa é o melhor que se pode arranjar quando o neonazismo avança em Portugal como um cavalo louco. Se o Tio Célito convocar eleições para os amigos tomarem o poder, por favor, votem Partido Socialista e António Costa. Mal por mal Marquês de Pombal que era filho de uma senhora do Libolo. Por isso os reaccionários do seu tempo lhe chamavam “quinto neto da Rainha Jinga”.

Rafael Marques, o condecorado de João Lourenço, deu uma grande entrevista ao jornal que promove os negócios dos ladrões do Povo Português. Despejou os recados que seus donos lhe encomendam e mais nada. Andam a gastar muita cera com ruim defunto.

Antes da entrevista ele publicou no “site” Maka Angola a acusação contra o conselheiro presidente do Tribunal Supremo, Joel Leonardo. Já está! A Procuradoria-Geral Rafael Marques acusou. Num texto intitulado “Acusamos” o PGRM acusa “Adalberto Gonçalves, Alberto Tibério, Anabela Valente, António Santana, Carlos Cavuquila, Correia Bartolomeu, Daniel Geraldes, Emanuela Vunge, Fernando Gomes, Francisco Luemba, João Paulino, José Cosme, José Domingos, José Lopes, Mateus Domingos, Sebastião Bessa, Solange Pereira e Tânia Brás, todos vogais do Conselho Superior da Magistratura Judicial (CSMJ) de se mostrarem cúmplices, ao menos por fraqueza de espírito, de um dos espectáculos institucionais mais tristes do século: a descredibilização da Justiça angolana”.

Eis a acusação do condecorado de João Lourenço: “ Acusamo-los de, tendo nas mãos as provas adequadas, não iniciarem um processo disciplinar contra Joel Leonardo, presidente do Tribunal Supremo, como a lei exige e a moral obrigam. Acusamo-los de se tornarem cúmplices dos mesmos alegados crimes de Joel Leonardo, por omissão de comportamento. Acusamo-los de terem feito uma sindicância da mais monstruosa parcialidade relativamente aos casos de Agostinho Santos, Anabela Vidinhas e outros juízes do Supremo Tribunal objecto de processos disciplinares do CSMJ. Acusamo-los de aprovarem ou redigirem deliberações erradas ou usurpadoras de poderes, a menos que um exame médico os declare doentes de algum mal da vista ou de julgamento. Acusamo-los de poderem estar a encobrir ilegalidades, debaixo de ordens”.

A Procuradoria-Geral Rafael Marques (PGRM) acusou, está acusado. Senhor Presidente da República: Quando um condecorado excrementa a condecoração com a qual foi distinguido perde o direito a ela. Quando o seu condecorado se comporta como um rafeiro tinhoso ao serviços do George Soros e outros ladrões de alto coturno não é digno da condecoração. Ainda vai a tempo de corrigir o seu erro gravíssimo ao condecorar um falso jornalista a soldo. Se não o fizer, corre o risco de ser acusado como foram acusados venerandas e venerandos membros do Conselho Superior da Magistratura judicial. É hora de avançar a autoridade do Estado.

Patrício Vilar Bicudo aplaudiu o aumento do preço da gasolina em 100 por cento. Um pobre diabo acomodado que dá pelo nome de Adebayo Vunge amplificou os elogios a mando da Dona Vera. Senhor Titular do Poder Executivo, não se deixe encantar pela música dos acomodados. Eles só querem tacho. Olhe para os acontecimentos de hoje no Huambo. Podem incendiar toda a pradaria. Não subestimem o Povo Heróico e Generoso.