Foste tempestade ruidosa,
Sombra em palco iluminado,
Sereia que encantou multidões,
Galo que cacarejou na capoeira,
Malabarista e sonhador,
Que encheu o circo,
Encantou arquibancadas,
Um meteorito luminoso,
Um paraquedista efémero,
Que se estatelou no primeiro salto,
Do grande desafio.
Sonhaste-te imperador,
Senhor da terra e dos mares,
Quiseste ser Deus e o diabo,
Abraçaste santos e pecadores,
Foste peregrino ao Muro das Lamentações,
Desafiaste Jerusalém sem Mitra,
Carregaste o catecismo em noites insanas,
Misturas-te a Óstia com volúpia,
Sobraste inteiro,
Mas com alma hipotecada ao diabo.
O eco do atrevimento chama-te traidor,
Os aplausos ecoam como pesadelos,
És apedrejado pelos discípulos,
Apedrejado no teu quintal,
E crucificado na indiferença,
E sepultado como moribundo indigente.
No que resta até ao infinito,
Nem a água benta baptismal salva-te,
Da justiça dos agredidos,da ira dos enganados,
E na efemeridade do relâmpago,
E na propagação dos trovões,
Até o teu nome assusta de tão reles,
Como assustam outros a quem o silêncio,
Que traz à tona a realidade,
Traumatizar-lhes-á o sono e a alma,
Até ao momento do leito do fim.
Kuma Gomes