É preciso ter muita lata para fazer sondagens sem amostra significativas e fichas técnicas incompletas e apresentá-las como se fossem grandes estudos científicos e as suas conclusões de uma perfeição inultrapassável.
A recente bateria de supostas sondagens feita por uma associação estrangeira com sede no Gana e pelos seus colaboradores angolanos (Afrobarometer e Ovilongwa) é um exemplo de fogo-de-artifício sem consistência.
Não vale a pena analisar as perguntas e respostas, nem as percentagens de cada uma. Não transmitem nada de relevante em termos de significado real.
O importante a reter são as páginas de metodologia. Aí se diz que foi escolhida uma amostra nacionalmente representativa de cidadãos adultos e que todos os entrevistados são seleccionados aleatoriamente. Não se refere qual o instrumento escolhido para proceder a essa selecção. É sabido que em Angola não há fontes com referências populacionais facilmente disponíveis. Portanto, esta afirmação parece tirada de Manual de Sondagens, mas não é concretizada em relação a Angola.
Concretamente em relação a Angola, afirma-se que a amostra foi de 1.200 pessoas com 18 anos e que para esta ronda, o inquérito foi realizado em Angola de 9 de Fevereiro a 8 de Março de 2022. Aparentemente os inquéritos foram feitos face-a-face.
Refira-se que o universo de inquiridos é extremamente reduzido. Por exemplo, no Bengo foram ouvidas 16 pessoas, no Zaire, 32 pessoas, no Moxico, 32 pessoas, e mesmo em Luanda apenas foram 360 pessoas.
E dessas, segundo afirmou um dos responsáveis, David Boio, 46% são não respondentes. Quer isto dizer, que os resultados do inquérito reflectem a opinião de pouco menos de 600 pessoas. Isto num universo de 14 milhões de votantes. É evidente que por muita aritmética que se faça, 600 pessoas não reflectem 14 milhões de pessoas.
Nestes termos, temos de ver com muita atenção a questão das sondagens. Não comprar gato por cabrito. A grande sondagem é no dia da eleição, e até aí é nas poderosas manifestações de massa de apoio ao governo que têm existido recentemente.