Não existem nunca razões que racionalmente justifique uma guerra, há todavia, motivações e egoísmos que geram um espaço de irracionalidade, não há inocentes, não há vencedores ou vencidos, é o homem na sua natureza selvagem na sua cegueira hedionda provocando danos colaterais irreversíveis.
O espectro do comunismo foi tomado pela tirania e deixou marcas horrendas na humanidade, mas o capitalismo selvagem e a sua voracidade insaciável, oprime na sua escala de servidão voluntária, e em nome da pertença superioridade democrática sente-se no direito de emoldurar a suprema humilhação.
Não precisamos recorrer ao séc. XIX nem ao período que culminou com a Segunda Guerra Mundial e subsequentes conflitos territoriais, mas o mundo deu uma cambalhota com a Perestroika e desanuviou as tensões militares com a queda do Muro de Berlim e a reunificação da Alemanha. Na ocasião solene, o eixo franco alemão representado pelo chanceler Helmut Kohl e o presidente francês François Mitterrand, conjuntamente com o secretário de estado norte americano James Baker, assumiram publicamente que a NATO não se estenderia nem um palmo das fronteiras então delimitadas.
Tivemos a guerra e desintegração na Jugoslávia, a Europa abriu um precedente com a independência do Kosovo, e tivemos tropas da NATO no Iraque, no Afeganistão e na Líbia. Entretanto a NATO expandiu-se pelos países do Báltico, Polónia, Roménia e Bulgária, já tinha a Turquia, e com a probabilidade da adesão ucraniana que dispõe de Odessa, encurralava a Rússia no Mar Negro, acresce ainda a entrada no Mediterrâneo pelos Dardanelos controlados pelos turcos.
A Europa e os Estados Unidos da América, até o Canadá e a Noruega, subestimaram a Rússia de Vladimir Putin e julgaram sufocá-lo atraindo ao consumismo capitalista.
Nada justifica o ataque das tropas russas à integridade territorial da Ucrânia, porém, o líder russo já deu mostras que é um tirano fundamentalista do Império Russo, e se pela via capitalista estava a ficar secundarizado pela China, deslocando-se o centro do mundo para a Ásia, reagiu com aquilo em que ainda é poderoso, e hoje, acaba mesmo de anunciar prontidão nuclear.
Em quatro dias de guerra há apenas perdedores, e se o inimigo forçou a uma união capitalista e pretensamente democrática, assistimos às fraquezas do Ocidente dito civilizado em pânico, as sanções têm efeitos recíprocos, em termos energéticos temos uma Europa dependente, e até onde vai a aventura ninguém sabe.
Nesta altura o grande temor de Putin é a frente interna, o moral das suas tropas começa a ceder, e os caixões e telegramas familiares anunciando mortes vão começar a chegar, e a sua grande odisseia pode terminar com a sua queda.
O desespero é um drama, o medo obriga a tacticismos diplomáticos intensos, se o desfecho tardar ou até empolar, África pode ter um papel importante no desanuviamento e aproveitar uma oportunidade de desenvolvimento ímpar, precisa de segurança e estabilidade e de instituições vincadamente firmes para regular o investimento. A neutralidade africana no contexto global, com lideranças com visão, pode acolher o capital que se vai desvalorizar se o conflito se agravar, talvez seja a hora de Angola repensar com determinação objetivos de mudança de paradigma, fazer de Luanda uma capital financeira em África seduzindo o capital que vive constrangimentos geográficos penalizadores.
Creio ser tempo de acabar com certas impunidades oriundas de verborreias insanas, terminar com o folclore dos alienados, barrar as abomináveis clandestinidades, e fazer um crivo apertado a influências e interferências externas, para que não tomem proporções que bloqueiem as oportunidades do momento.