Por muito que Mihaela Webba vomite as virtudes de Muangai na sua verborreia, a UNITA nasceu e cresceu como um projecto de ambição pessoal traindo a sua matriz original, e nada tem que permita orgulhar-se na sua trajectória.
Jonas Savimbi identificou-se maoista, cedeu e sobreviveu à sombra do Portugal colonial, estabeleceu parceria privilegiada com o Regime do Aparheid da África do Sul, protegeu-se à sombra da CIA e integrou a agressão imperialista americana em África, e criou um estado clandestino que encetou uma guerra civil com a exploração de recursos do país que cercearam o desenvolvimento nacional.
Angola tinha em 1975 um parque industrial invejável ao longo do corredor do Caminho de Ferro de Benguela, que além de ser o maior empregador nacional, com quadros formados pela companhia, facilitava as trocas comerciais que alimentavam metade da população angolana, incluindo os colonos. A UNITA cumprindo objectivos sul africanos de bloqueio da economia angolana reduziu a escombros todas as infraestruturas, queimou toda a documentação, deixando apenas intacto o património das Igrejas Católica, Protestante e Adventista.
Esse estado clandestino, selvagem e psicopático, nómada, transformou-se numa arena de crimes hediondos, racista, tribalista e sem lei, era notório o rasto de miséria por onde passava, até se fixar na Jamba depois de uma série de contradições que a história há-de registar com clareza.
O heroísmo que a juventude apregoa está na doutrina, na realidade mesmo depois da sua morte, o general Lukamba Gato deu-lhe continuidade, e em tão pouco tempo de transição granjeou tanto ódio que nunca permitiu que ganhasse uma eleição interna no Galo Negro. Há uma expressiva amálgama de gente silenciosa que carrega ódio e espera desesperadamente ter voz para reclamar com feridas expostas e cicatrizes vincadas, da dor das ofensas selvagens que vão da morte, famílias destroçadas, meninas violadas, mães precoces, esposas expostas, viúvas, a caprichos dos mandantes, e uma multidão de escravos acantonados no medo e na mentira numa servidão controlada por segundas figuras dependentes do chefe.
Aqueles que dizem que na UNITA não havia fome, nem doença, e havia escola e emprego, são aqueles que viajavam para Paris, Londres e Nova York com o líder, e tinham corredor aberto para a África do Sul, frequentavam hospitais em Marrocos, e como Savimbi tinham os filhos a estudar em escolas privadas em Paris e Lisboa. São os mesmos que hoje usam perfumes da Chanel, fazem filas nas compras do Kero, vão às clínicas Girassol e Multiperfil, e têm escravos no quintal a troco de um prato de comida.
Isaías Samakuva quis imprimir algo de novo, arejou a UNITA, deu-lhe um cunho de elevação democrática, mas foi severamente combatido pela nomenklatura familiar que sempre dominou o Galo Negro desde 2002. Enquanto duraram as benesses de José Eduardo dos Santos as hostes mantiveram-se calmas, a imoralidade do saque abrangia os “maninhos”, dava para tudo, até para manter empresas de fachada altamente deficitárias.
Com a chegada de João Lourenço que imprimiu um novo estilo de governação, instaurou-se a probidade pública, e o castelo de ilusão e da exploração dos bens do Povo, ruiu e criou uma nova força aliada, clandestina, com ligações suspeitas, ligadas ao capital especulativo e agressivo que atua de fora para dentro.
Mudou alguma coisa, enquanto Jonas Savimbi se protegia num punhado de dependentes que na vida apenas sabiam pegar em armas, chegou triunfalmente Adalberto Costa Júnior como instrumento que dá o rosto a uma convergência ampla de interesses que o suportam, camuflando em idiossincrasias apelativas ensaiadas, a existência de um monstro bipolar, a UNITA e a FPU. À vez, uma dialoga e outro ataca, e de Lisboa a Pretória, do Dubai a Singapura, com escala em Roma, jogam-se conveniências que se vão intensificando, o treino é sofisticado, não faltam fundos, e quanto mais a recuperação económica de Angola tiver visibilidade, mais a teia terrorista agirá clandestina e desordeiramente em busca do caos, ACJ está a ficar sem espaço, os compromissos não perdoam, e a cegueira da tentação trai o raciocínio e gera o esplendor da ilusão.
Da tempestuosa fundação de Muangai, à recuperação em 1975 do paciente moribundo, a UNITA tem cumprido na perfeição o seu destino, destruir o futuro de Angola e das suas gentes.
Nada de novo…!!!