A fome

ByTribuna

18 de Dezembro, 2021

É com horror puro que se assistiu à manipulação do discurso do Presidente da República sobre a fome. E espanta que ninguém venha explicar o óbvio e se deixe arrastar uma campanha de maledicência abjecta.

“Fome relativa” é diferente de “a fome é relativa”. No primeiro caso, está-se a menorizar a fome, no segundo caso está-se a procurar explicações concretas para a fome e possíveis soluções. Foi isso que João Lourenço fez no seu discurso. Afirmou que a fome em Angola já não derivava da falta de produção de alimentos no país, que estava a aumentar, mas sim de outros factores, como a falta de poder de compra, maus canais de distribuição, circuitos de abastecimento que não funcionam e outros aspectos organizativos.

A fome é relativa quer dizer que existem causas concretas que se relacionam com a fome que não são a falta de produção de comida em Angola. Não quer dizer que não há fome e que o governo não está empenhado em resolver os bloqueios que mantêm a fome.

Aliás, este gráfico que tem sido apresentado por Carlos Rosado de Carvalho comprova exactamente o argumento de João Lourenço, ao contrário do que tem sido veiculado.

Hoje em Angola, a fome foi reduzida drasticamente face ao que estava até 2007/2008. Os números actuais são melhores do que aqueles no final de 2010. Em 2007, 46,1 % da população tinha fome. Em 2010, esse número era de 24,4%. Hoje é de 17,3%.  Não são números comparáveis: 46% para 17,3%. Descida radical. Há que ser sério nas análises.

 É evidente que nos últimos anos houve um ligeiro aumento da fome devido à crise económica e à pandemia mundial Covid-19 (de 15,5% para 17,3%) mas nada que se compare com os níveis até 2010 (24,4%).

Obviamente que ninguém deve ter fome e tal será uma prioridade do governo, mas não se deve mentir e criar demagogia com esta realidade.

E admira que a Igreja Católica embarque nesta demagogia. Deviam saber melhor. Há algo que não está a correr bem com a politização desta instituição, que já levou à sua quase destruição em muitos países da América Latina.