Os Congressos partidários electivos são, normalmente, pontos de viragem, são um momento presente que liga o passado ao futuro, e o XIII Congresso do Galo Negro não fugiu à regra, e as mudanças foram imediatas obscurecidas pela covardia e perene clandestinidade cravada no ADN da UNITA e das suas proeminentes figuras.
Ressaltou aos olhos de muita gente a forma acanhada como ACJ festejou a sua vitória, perdeu a exuberância depois de um dia macabro que o deixou fragilizado perante os seus próximos, sinais dos tempos que aí vêm.
Pela manhã, sabendo de um vídeo que ACJ trouxera do Dubai de Isabel dos Santos, e da possibilidade de uma intervenção por videoconferência de Tchizé dos Santos, que coincidiriam com o encerramento no grande écran, o convidado de honra e ilustre João Soares (pasme-se) comunicou a sua ausência na cerimónia, que foi atrasada para justificar a ausência com o seu regresso inesperado a Lisboa. Ele tinha aprazado o seu regresso, hoje, domingo, à capital portuguesa.
A esta posição que circulou num grupo restrito, associaram-se de imediato o insuspeito Samuel Chiwale e outros dirigentes, havendo mesmo ameaças de tumultos na sala.
Mas isto são pormenores do folclore iluminado que escondia as sombras onde pairavam o que se desenhava para o futuro, e a grande verdade que protagonizou a verdadeira viragem com o corte do passado recente, é que Isaías Samakuva foi derrotado pelo agora dono do Partido, general Lukamba Gato. O conflito não é de agora, o ódio é visível em qualquer circunstância, são ambos depositários da herança material de Jonas Savimbi conjuntamente com a última das suas esposas, hoje a viver maritalmente com o general Chimuco. Nunca nenhum prestou contas, o medo tem silenciado tudo até aqui.
Lukamba Gato usou de todas as artimanhas para controlar o Partido, manteve-se na África do Sul afastado dos preparativos do Congresso, como eminência parda colocou os seus peões nos lugares que queria, e ontem criou este caso com João Soares, apoiante de ACJ, capturou Chiwale, e pode ter dado um coice nas aspirações de Isabel dos Santos, e na hora certa vai usar todo este arsenal que divide o Galo Negro, para privilegiar o seu primo e amigo Abel Chivukuvuku, sendo que ele ambiciona a Presidência da Assembleia Nacional.
Lukamba Gato é hoje, no reino dos vivos, o político da UNITA que melhor conheço, pessoal e politicamente, encarna melhor do que ninguém a filosofia de Jonas Savimbi (dividir para reinar), na varanda da sua casa na Vila Alice, na Ilha de Luanda fumando um charuto à beira mar, no Huambo, no Bailundo, no Caxito, em Paris, partilhamos estratégias, quase sempre em desacordo, porque alimenta-se de clandestinidade e vê fantasmas até nas sombras das plantas do seu pequeno jardim.
Tem em Marcial Dachala e Eugénio Manuvakola os seus fiéis capatazes, serão eles, com certeza, a sepultar ACJ e os intoleráveis activistas subversivos, é um militarista convicto embora militar de gabinete, e é visceralmente o mais anti-português dos dirigentes da UNITA, pese embora tenha neste momento uma filha a estagiar em Portugal.
Pessoalmente foi para mim uma surpresa a presença no SOVSMO do general Peregrino Wambo Chindondo, jurista de formação, espanta-me ter ferido a dignidade das Forças Armadas, que deveriam ser isentas, e subverter a sua honorabilidade pessoal, a não ser que tenha requerido a sua desintegração militar. São sinais demasiado perigosos e que merecem atenção das instâncias que tutelam as Forças Armadas.
De resto, acredito, tenho a certeza, que ACJ passou a ser desde ontem, na UNITA, um político descartável, passada a euforia obstáculos surgirão a espaços, mesmo porque o tempo tem costas largas, qualquer descuido fatal, será sempre culpa do MPLA.