Política externa de Biden vai de mal a pior

ByTribuna

27 de Setembro, 2021

Depois de um começo prometedor e de criadas muitas expectativas ao redor do Presidente Biden, eis que nos encontramos numa fase em que muitos americanos já pedem a cabeça do “velho Joe”. Como chegámos a este ponto?

A última e grave acção da política externa americana aconteceu quando os franceses foram deixados de fora de um pacto de segurança envolvendo a partilha de tecnologias de defesa avançadas, liderado pelos EUA com a Austrália e o Reino Unido. O já designado ‘AUKUS’, naturalmente gerou uma reação negativa da parte de alguns quadrantes, como por exemplo a China, visto que este pacto visa colocar um travão à sua influência no Indo-Pacífico. Contudo, ao que tudo indica, Biden e a sua administração foi apanhada completamente de surpresa, face à reação bem estridente e sonora da parte da França, principalmente do Presidente Macron.

Embora já se soubesse que este acordo iria derrubar o acordo da França em fornecer submarinos nucleares à Austrália (um negócio de 56 mil milhões de euros), Biden não estava preparado para uma reação tão efusivamente descontente da diplomacia francesa.

Este pacto, vem na sequência de várias asneiras feitas no contexto da política externa americana. A mais visível, a retirada completamente atabalhoada e vergonhosa do Afeganistão, marca o fim do estado de graça de Biden, e a passagem para o extremo oposto, um fim sem glória e humilhante para a principal potência militar do mundo. No caso do AUKUS, o Presidente acabou por fazer uma ligação a Macron, que resultou basicamente num ‘mea culpa’ assumido por ele.  

Estas gafes e embrulhadas mais recentes, deixaram as autoridades americanas e estrangeiras perplexas perante estes dois recentes fracassos diplomáticos do governo Biden – primeiro na execução da retirada do Afeganistão que culminou com uma grande tragédia, quando um ataque de drones dos EUA, por engano teve como alvo um trabalhador de uma ONG afegã matando 10 civis, e depois conseguir enfurecer o seu aliado mais antigo, a França, mantendo o país completamente no “escuro” em relação ao negócio dos submarinos.

Uma questão que desde logo se pode colocar é, quais as razões para tanto disparate? Uns apontam falhas na coordenação e comunicação entre o Conselho de Segurança Nacional (CSN) e o Departamento de Estado, que geralmente é o principal elo de ligação com os parceiros internacionais. Mas também existe uma outra corrente de opinião que acredita que um dos principais problemas tem sido a falta de embaixadores confirmados pelo Senado e funcionários do Departamento de Estado que poderiam servir como um controle sobre o poderoso CSN dentro da Casa Branca.

Assistimos assim a uma luta de influências de vários campos, que estão por esta altura a gerar bastantes desequilíbrios e desorganização. Seja como for Biden e a sua administração não está a ter energia e competência suficiente para agir cabalmente nos vários cenários internacionais.

Algumas autoridades e legisladores americanos, acreditam que o foco intenso do governo sobre a China, fez com que fossem negligenciados outros assuntos, como por exemplo um planeamento adequado antes da retirada do Afeganistão, ou o trabalho diplomático crucial desenvolvido com os aliados europeus.

Nem tudo pode ser apontado ao Presidente. Na realidade, os cenários ou as crises, já estavam montadas há algum tempo, todavia, uma série de eventos tem provocado uma enorme desconfiança entre os países mais chegados aos EUA. Os eventos no Afeganistão onde os americanos saíram às pressas da base aérea de Bagram dando pouco ou nenhum aviso aos aliados e o desastre do acordo AUKUS minaram gravemente a confiança nos EUA. E em relação a isso, o principal responsável é Biden.

Embora nos primeiros meses o seu governo tenha tido uma recepção calorosa dos seus parceiros internacionais, actualmente são vários os diplomatas a questionarem se o governo Biden será efectivamente melhor que o de Trump.