A cantora Ary (Ariovalda Eulália Gabriel), de 35 anos, a segunda mais premiada em Angola, deu uma entrevista à agência Angop onde defende a necessidade de o Governo “abrir as portas” para os músicos angolanos regressarem ao trabalho e ao contacto com o seu público, após mais de um ano a viverem sob “rédea curta”, face às medidas sanitárias impostas para travar a pandemia da Covid-19.
A carismática artista que aposta nos estilos musical Kizomba e Semba, embora tenha uma paixão pelo R&B Soul, acredita que já terá chegado o momento de o Governo deixar os artistas trabalharem, mas sempre seguindo as medidas de biossegurança. Ary confessa que nos últimos tempos tem feito ‘lives’ nas redes sociais para manter o contacto com os seus fãs e que cantar ao vivo se limita a atuações em restaurantes. Mas pede mais: “O justo é abrirem as portas para os fazedores de cultura trabalharem, mas seguindo sempre as medidas de biossegurança”.
A cançonetista que despertou para a fama e se tornou famosa quando, em 2002, foi concorrente do concurso de talentos Chuva das Estrelas, assume nunca lhe ter passado pela cabeça que chegaria tão longe no mundo da canção angolana, em especial depois de ter ficado pelo caminho na competição, e de nem sequer ter sido uma das três finalistas.
Amada por multidões, criticada pela sua extroversão por outra camada vasta da sociedade angolana, Ary brinca com o embate das críticas: “No princípio as críticas fizeram muita confusão. Eram muitas, por causa da minha maneira extrovertida de ser, mas, felizmente, as pessoas foram vencidas pelo cansaço (risos) ficaram cansadas de criticar, porque deram que por mais fama que tenha não consigo mudar. As pessoas foram obrigadas a aceitar-me como sou. E hoje não querem outra coisa”, brinca.
Aposta na “ancestralidade”
Tratada carinhosamente como “Diva do Povo”, assume ter ganho o título e o estatuto com “um trabalho muito bem feito e pelo facto de tocar o coração das pessoas”. E porquê? “Nasci para isto. A música corre-me nas veias e não existe nada melhor do que trabalhar por amor e com amor”, remata.
Com um novo álbum preparado para ser lançado, a cantora garante que só falta perceber qual será a melhor data para o seu lançamento de um trabalho que, tal como os anteriores, foi buscar seiva à ancestralidade da música tradicional. “Sou o que sou hoje por que bebi e bebo, até hoje, muito da nossa ancestralidade. Há um ditado que diz que na boca de um mais velho podem faltar dentes, mas não faltam bons conselhos”.