A TVI quer derrubar ministros angolanos. Porquê?

ByTribuna

8 de Janeiro, 2021

É bizarro ver uma televisão portuguesa empenhada em derrubar ministros do governo angolano. Trata-se duma interferência política orientada por forças obscuras e não um exercício normal da liberdade de expressão e imprensa, pois as notícias focam-se sempre em membros do executivo de João Lourenço e são constituídos por dossiers pré-preparados que contêm um conjunto de meias-verdades e mentiras.

O resultado das reportagens da TVI é exaltar os ânimos em Luanda e deitar gasolina nas manifestações orquestradas para Luanda. Há aqui um efeito circular pretendido por aqueles que são alvo do combate à corrupção, os chamados “marimbondos”: fomentam as manifestações, emitem reportagens, desgastam os ministros de João Lourenço, fomentam as manifestações.

A consequência final destas reportagens é diminuir o peso político do Presidente da República de Angola e reduzir o combate à corrupção.

Na prática a TVI é uma aliada objectiva dos corruptos angolanos. Isto é muito estranho. Será que a nova estrutura accionista explica este alinhamento?

Há quem defenda que existe na TVI um projecto de poder que envolve Isabel dos Santos, Manuel Vicente e empresários portugueses. Um dos objectivos deste projecto seria, porventura, ter um órgão de comunicação social em Portugal para ajudar a derrotar João Lourenço, e acima de tudo voltar a tomar o poder de Angola.

Na realidade, muitos dos accionistas que recentemente adquiriram capital na TVI estão ligados entre si e a interesses angolanos por via de Isabel dos Santos e Manuel Vicente. Um dos homens fortes deste projeto de poder é Manuel Alves Monteiro que é vogal do Conselho de administração da Mystic Invest, é vogal do CA da CIN (CIN que também detém acções da TVI), é CEO da Big Tree Asset Management Limited, uma sociedade no Centro Financeiro Internacional do Dubai, onde teve relações com Isabel dos Santos. Mas Manuel Alves Monteiro tem outras fortes ligações a Angola uma vez que foi conselheiro pessoal de Manuel Domingos Vicente, que foi ex-vice-presidente daquele país no tempo de José Eduardo dos Santos. Chegou a entrar na TVI para CEO, cargo que já abandonou, mas que continua a manobrar na sombra. O momento da entrada de novos accionistas e de Alves Monteiro representa o início da operação de financiamento da TVI com capitais angolanos desenhada por ambos e pelo grupo de Angola liderado por Isabel dos Santos.

Outro dos homens chave deste projecto é Miguel Osório que é o beneficiário efetivo da HiperGo que detém 33.4% da BizPartner, entidade que concretizou a compra de 11,89% da Media Capital. Miguel Osório trabalhou no projeto de retalho de Isabel dos Santos em Angola da rede Candando, grupo Contidis e era Director-geral. Miguel Osório é tido como muito próximo da filha do ex-Presidente de Angola, é mais um elemento a reforçar os interesses de Isabel dos Santos na estrutura acionista da TVI, desta feita deforma ainda mais firme.

Outro dos elementos que entrou para accionista da Media Capital / TVI foi o empresário António Sá, dono do grupo IBG – International Business Group e da DVM Trading. António Sá está insolvente e por isso terá criado uma empresa com sede em Malta, tendo ainda subsidiárias na offshore da Madeira. Era proprietário de uma empresa portuguesa de nome Divimimho que, por via do processo de insolvência, custou centenas de milhões oriundos do antigo BES (grupo onde o BESA pertencia). António Sá foi declarado insolvente em abril de 2019, tendo o Tribunal do Comércio de Lisboa tomado a decisão por impossibilidade de prosseguir com a liquidação da dívida ao Novo Banco no valor de 4,26 milhões. António Sá foi também o fundador da DVM Angola, especializada em revestimentos de interiores, que contava com200 empregados naquele País. Os aeroportos de Luanda, Catumbela e Benguela e as sedes do BESA e da Total figuram entre as principais realizações da DVM no tempo em que José Eduardo dos Santos era Presidente. O empresário sempre foi próximo do ex-presidente e da sua filha Isabel dos Santos. António Sá é casado com Isabel Maria Araújo Rodrigues de Sá, que deteria 12% da Media Capital. Isabel Sá controla duas empresas, uma das quais sediada em Malta, que são donas de quatro Ferrari e dois Lamborghini.

São mais dois pivots neste plano de tomada de assalto da TVI para proveito do projeto da Presidência de Angola, de que agora se noticiou que abandonaram a empresa.

Estas entradas e saídas obscuras do capital da TVI são muito suspeitas.

Mais um dos membros deste grupo é Avelino Gaspar, um dos maiores acionistas da Media Capital por intermédio da empresa Triun, detida pelos membros da sua família, nomeadamente o filho Paulo Gaspar, Mariana Francisco Gaspar e Francisco Mota Gaspar, também filhos de Avelino Gaspar, dono da Lusiaves. Avelino Gaspar é CEO da Lusiaves e esteve no escândalo BPN em Portugal, tendo sido acusado de insolvência dolosa e branqueamento de capitais no caso da firma Avilafões. Avelino Gaspar foi acusado juntamente com mais três gestores da Lusiaves de esvaziamento do património de bens e equipamentos da empresa Avilafões, unidade de Vouzela que integra o grupo. Avelino Gaspar, por via da empresa Triun, presidida pelo seu filho Paulo Gaspar, comprou uma posição da Prisa na Media Capital e lidera a Comissão de Remuneração dos Órgãos Sociais da TVI. A família Gaspar tem a atividade centrada no imobiliário e na agricultura, também com ligações a Angola desde o tempo em que José Eduardo dos Santos era Presidente e poderá ser mais um elemento chave nesta operação de financiamento angolano da TVI.

Temos ainda o empresário da indústria de Eventos (através da NIU) e de Restauração (através do Grupo Praia), Nuno Santana. É neste momento o principal fornecedor e organizador de eventos da TV.

Este é o cenário de uma teia que se está a apoderar dos Media em Portugal e que tem o objetivo de ser o braço de um grupo que pretende tomar o poder em Angola. Isabel dos Santos lidera este projecto e Manuel Vicente também está dentro.