As contas estranhas de Isabel dos Santos na Efacec

ByTribuna

6 de Janeiro, 2021

A compra da Efacec por Isabel dos Santos esteve sempre envolta num mistério, havendo a ideia que no final ia sobrar em termos de prejuízos para o Estado angolano. Até hoje ainda não se conseguiu perceber exactamente os contornos da operação.

É público que a Efacec foi nacionalizada pelo Estado português no Verão de 2020, numa jogada de antecipação para evitar que o congelamento das participações sociais de Isabel dos Santos na empresa a levassem à falência.

Obviamente, depois disto Isabel perdeu o interesse na companhia e deixou de pagar as dívidas que contraiu para comprar a Efacec. O problema é que nada bate certo e no final da linha surge o Estado angolano a garantir algumas das dívidas de Isabel. No fim de contas, será Angola que irá pagar as aventuras empresariais de Isabel dos Santos?

A primeira suspeita que isso poderia acontecer surgiu no passado mês de Dezembro de 2020 quando a imprensa portuguesa anunciou que três bancos portugueses, em concreto, o Novo Banco (NB), do Banco Comercial Português (BCP) e a Caixa Geral de Depósitos (CGD), interpuseram acções contra a empresa Winterfell, de Isabel dos Santos. O que se passa é que aparentemente, o Estado angolano através da ENDE havia garantido uma quantia de cerca de 30 milhões de euros a Isabel dos Santos. Assim, os bancos portugueses ao demandarem Isabel, demandaram solidariamente e em simultâneo a ENDE de Angola, e como a empresa de Isabel não terá activos relevantes, acabarão por ser os angolanos a pagar as dívidas contraídas por Isabel aos portugueses para comprar a Efacec.

A isto acresce que mais recentemente, mesmo no final do ano, foi devidamente noticiado em Portugal que os mesmos bancos interpuseram uma nova acção contra Isabel dos Santos a propósito da Efacec. Nessa nova acção, os três bancos exigem 26,39 milhões de euros a Isabel dos Santos e à Winterfell Industries, de Malta. Não se sabe se o Estado angolano também teria prestado aqui alguma garantia.

Parece que a compra da Efacec terá custado a Isabel 195 milhões de euros. Pelo que se sabe, o Estado angolano entrou com 16 milhões directamente.

Alegadamente, os bancos portugueses Novo Banco, Caixa Geral de Depósitos e Millennium BCP emprestaram 70 milhões de euros às empresas off-shore controladas por Isabel. Possivelmente, 30 milhões desses 70 milhões estão garantidos pelo Estado angolano.

A isto acresce que o Montepio concedeu um empréstimo adicional de 40 milhões de euros, o BPI de 25 milhões e o BIC 25 milhões. Estes últimos dois bancos, recorde-se, tiveram Isabel dos Santos como accionista.

Se somarmos estas verbas publicadas, temos um total de 176 milhões de euros (incluindo os 16 milhões da ENDE de Angola). Quer isto dizer que falta averiguar, pelo menos, a proveniência de 19 milhões de euros para perfazer os 195 milhões. Sobre estes 19 milhões não se sabe nada.

O importante a reter é que Angola se arrisca a perder nesta história toda, pelo menos 46 milhões de euros (os 16 investidos directamente e os 30 garantidos à banca). Este número pode aumentar se vier a verificar-se que o Estado garantiu mais empréstimos de Isabel e esta, como se prevê, não pagar nenhum deles.

O que se começa a ver, se estas contas se confirmarem, é que a compra da Efacec por Isabel dos Santos foi um desastre financeiro para o Estado angolano…