É ridículo, confrangedor, constatar reuniões directivas seguidas de vassalagem ao líder, que ainda há um ano chegou entre bandeiras e arrogância e que é, cada vez mais, figura decorativa de uma moldura com retrato cansado, gasto e desorientado. Juntam-se ao cenário os bajuladores, nefelibatas idiotas, néscios patetas, que como nubívagos políticos desfilam como analfabetos funcionais.
O brigadeiro Adalberto da Costa Júnior, chegou triunfante impulsionado pelo seu ego, exercitou o seu narcisismo em discursos inflamados, e rapidamente colidiu com uma parede chamada realidade, um MPLA protagonista de uma sobrevivência poderosa, que sobrevive em clima de medo como o peixe na água.
O tempo curto foi o suficiente para que o líder do Galo Negro aquilatasse uma realidade que ele tenta inverter. É que o MPLA não merece ganhar nenhuma eleição, mas a UNITA merece perdê-las, porque Angola, passaria do pesadelo das dificuldades para o caos do tribalismo e das revanches que milhões de angolanos conhecem.
Adalberto da Costa Júnior é a vedeta de um jogo perigoso. Quem manda na realidade na UNITA são velhos generais clandestinos e inquisidores, os que partilharam com o MPLA a política do medo, da corrupção. Entre Jonas Savimbi e José Eduardo dos Santos não há diferenças na herança, ambos expropriaram recursos de Angola, ambos mataram, mandaram matar, pelo Poder e pelos seus caprichos, dividiram a cidade e o mato, mas as armas foram as mesmas.
A ala belicista da UNITA liderada pelo general Lukamba Gato, por Marcial Dachala e Eugénio Manuvakola, com leque alargado pelas cumplicidades históricas e familiares de Chiwalle, Chilingutila, Tchindande, Nunda, Numa, são vistos escondidos em pontos nevrálgicos durante as Manifestações, com telemóvel, no conforto do ar condicionado das suas viaturas, a jogar “in loco” as suas pedras no xadrez. São os mandões da Oposição rebelde que se sente cada vez mais impotente em chegar ao Poder pela via democrática.
Com o virar do ano vão recrudescer as manifestações, vão introduzir coisas novas que provoquem simultaneamente a vitimização dos jovens e a culpabilidade policial, sem razão que não a voracidade de Poder. As eleições Autárquicas serão o “leitmotiv” da ambição, é onde ecoará com estrondo o braço aliado de oportunidade que surgiu, o apoio dos Santistas à desestabilização. De repente apareceu dinheiro novo na UNITA para investir no medo, e a ingenuidade leva a acreditar nos “marimbondos” como aliados quando afinal a UNITA serve assim uma das facções internas da luta pelo Poder no MPLA.
Adalberto da Costa Júnior fez chegar às Chancelarias em Luanda, vontade de fazer uma viagem à Europa e onde gostaria de ir, mas as portas não se abriram, nem a dos tradicionais aliados de circunstância. O líder da UNITA não tem prestígio internacional, é um desconhecido, mesmo em Portugal onde frequentou a universidade, apenas tem uns amigos ex-colegas no Porto. Ainda assim, quando contactados, mostraram-se preocupados com a falta de maturidade do líder do Galo Negro.
Como observador atento e ligado a alguns acontecimentos do meu chão, temo que três décadas depois possamos assistir à repetição das cenas de 1992. Há muita crispação e extravasam-se limites. Há gente na UNITA que poderia fazer a ponte, Alcides Sakala é nesta altura uma referência, Chivikuvuku pode contar para uma solução, mas é necessário e urgente a implementação de um novo espectro político-partidário. Por acréscimo, deveria ser implementado um Novo Organigrama Político e Administrativo do País, porque dado o estágio de desenvolvimento e os recursos orçamentais derivarem de um produto localizado, o petróleo, as Autarquias Locais poderão chegar como um Elefante Branco à sociedade.
A viragem do ano 2020/21 parece-me crucial para aferir os comportamentos, a par da onda avassaladora de contra-informação nas Redes Digitais, onde proliferam horrores e alarvidades. Os meios esperados nas manifestações serão mais sofisticados, e as fronteiras entre o mal e o bem, entre o certo e o errado serão cada vez mais ténues, e para evitar o desastre não se vislumbram declarações que balizem contextos, e não sabemos qual será o limite.
Kuma