A pré-candidatura de Higino Carneiro à presidência do MPLA não é, por si só, um problema. É apenas um saco vazio cheio de ar — um gesto político sem substância, sustentado por um passado marcado por suspeitas de corrupção, má gestão e falhas de carácter que o desqualificam para liderar qualquer processo de renovação séria dentro do partido.
O verdadeiro problema é o que esta candidatura representa: uma tentativa clara de introduzir divisionismo no seio do MPLA, ao serviço de uma agenda mais ampla e insidiosa — o ressurgimento do neo-santismo. Esta corrente, que se estende desde sectores da Ordem dos Advogados até aos bastidores do sistema financeiro angolano, procura reabilitar figuras do passado e reocupar espaços de poder que a Nova República tem tentado desmantelar.
Não é coincidência que nomes como Higino Carneiro, Venâncio, Cónego, e outros reapareçam em momentos de tensão interna no MPLA. São peças de uma engrenagem maior-neo-santista- que visa sabotar a autoridade do partido e enfraquecer o seu projecto de renovação. A Ordem dos Advogados, por exemplo, tem adoptado uma postura sonsa, quase substitutiva do Estado, enquanto banqueiros como Fernando Teles — com ligações conhecidas a Isabel dos Santos — continuam a financiar movimentos e figuras que orbitam entre a UNITA e o MPLA, conforme lhes convém. Em 2022, esses mesmos interesses financiaram a oposição. Hoje, investem na fragmentação interna do partido no poder. O objectivo é claro: esfacelar o MPLA por dentro, minando a sua coesão e preparando o terreno para um retorno ao passado.
Higino Carneiro fala em “romper com o sim, chefe” e em “revitalizar a militância de base”. Mas quem conhece o seu percurso sabe que estas palavras são ocas. O seu histórico como ministro e governador está longe de ser inspirador. A sua retórica reformista é apenas uma cortina de fumo para encobrir ambições pessoais e alianças perigosas.
O MPLA não pode permitir que estas manobras avancem sem resposta. É urgente uma acção unificadora que reafirme a autoridade da Nova República e proteja o partido das forças que o querem capturar. A liderança deve ser clara, firme e transparente. A militância deve ser mobilizada não para bajular, mas para defender os valores fundadores do partido e o seu papel histórico na construção de Angola.
A democracia interna não pode ser confundida com permissividade. A pluralidade de ideias é saudável, mas o oportunismo disfarçado de renovação é um veneno que precisa ser neutralizado.