Manobras africanas de Trump

ByAnselmo Agostinho

11 de Julho, 2025

O recente encontro entre Donald Trump e cinco líderes africanos — de Gabão, Guiné-Bissau, Libéria, Mauritânia e Senegal — em Washington, revelou uma faceta perturbadora da política externa norte-americana: a tentativa de transformar países africanos em depósitos humanos para migrantes indesejados, num esquema que muitos já comparam a uma nova forma de escravatura moderna. É isso que explica a estranha escolha de países convidados.

Segundo o Wall Street Journal, os governos africanos foram pressionados a aceitar migrantes deportados dos EUA, mesmo quando não são seus cidadãos. A proposta, disfarçada de “acordo de terceiro país seguro”, implica que essas nações recebam indivíduos expulsos de solo americano, sem qualquer ligação cultural, histórica ou jurídica com os países anfitriões. A Libéria, por exemplo, foi mencionada como possível destino para migrantes venezuelanos.

Este plano, que mistura deportação com diplomacia comercial, levanta sérias questões éticas. Ao atrelar a aceitação de deportados a promessas de investimento e cooperação económica, Trump parece estar a negociar vidas humanas como moeda de troca. A estratégia lembra práticas coloniais, onde o continente africano era usado como palco para exploração e tráfico humano — agora reconfigurado sob o pretexto de segurança migratória e acordos bilaterais.

A proposta não passou despercebida. Mas o silêncio da maioria dos líderes africanos e a ausência de uma posição conjunta revelam o peso da pressão diplomática exercida por Washington.

A administração Trump já começou a deportar migrantes para países como o Sudão do Sul, mesmo sem qualquer ligação entre os deportados e o país de destino.

Este episódio marca um ponto crítico na relação entre os EUA e África. Ao tentar transformar o continente num campo de contenção para migrantes indesejados, Trump revive práticas desumanas que deveriam estar enterradas na história. A pergunta que se impõe é: até que ponto os líderes africanos estão dispostos a negociar a dignidade dos seus povos em troca de favores diplomáticos?

Felizmente, Angola não esteve presente.