Vítor Hugo Mendes, que manifestou dificuldade em pronunciar a “Teia de Penélope”, essa obra inacabada da tragédia grega de Ulisses, serviu para mostrar o quanto se buscam vícios Santistas para culpabilizar João Lourenço.
Sempre houve nas finanças de Angola, nichos que lesam a economia, o Senhor Presidente da República não é bombeiro, e se tiver de acorrer a todos os fogos, faltar-lhe-á tempo para governar, para isso delega nos seus ministros responsabilidades sectoriais, que deverão prestar contas, por isto têm um estatuto de homens do Estado.
Ora, a análise que é feita sobre o funcionamento económico-financeiro deriva de um somatório de vícios que se arrastam há décadas, e cuja correção é dificultada por contratos longos, e cumplicidades de alguns bancos que trocam o interesse nacional pelo benefício próprio.
Eu mesmo acompanhei, negócios da UNITA de Jonas Savimbi, na década de 90, transações com holandeses num banco no Luxemburgo, o ING Bank, onde pagavam em dólares a troco de Kuanzas, a um câmbio 4 vezes menor, que eram entregues em malas em Angola a representantes de empresas petrolíferas para despesas locais.
Este sistema fraudulento, atentatório dos interesses da economia angolana, sempre funcionou mesmo depois da guerra, através do BIC de Fernando Teles e Isabel dos Santos, com a cumplicidade das autoridades reguladoras do BNA. Não é nova esta estratégia que corrobora com o facto das receitas petrolíferas nunca entrarem em Angola na sua totalidade, e ao que se sabe continua a funcionar comprometendo a reserva de divisas do BNA.
Mas o cinismo que empurra responsabilidades para João Lourenço, é o mesmo que leva Vítor Hugo Mendes, a omitir que a incapacidade de repatriamento de capitais dos lucros dos investimentos estrangeiros em Angola, não é de agora, é uma herança pesada de 2014 e 2015 em diante, com um crescimento exponencial da Dívida Pública, e que só começou a ser corrigida depois de 2022, mas que ainda paga o preço do Saque ao Erário Público de então, e na dificuldade na recuperação dos ativos roubados ao Estado pela teia de corruptos Santistas.
Aliás, em 1995, numa deslocação a Paris como ministra sombra da UNITA, Fátima Roque, afirmou numa reunião com empresários em que acompanhei, que se a UNITA chegasse ao governo, suspendia todos os contratos com as petrolíferas, para se renegociar de novo sem vícios que tanto estavam a prejudicar o País. Só que na mesma viagem, recebeu um punhado de dólares da Total, na sede em La Defense, para segurança das suas instalações.
O turbilhão de armadilhas que envolve centenas de empresas em Offshores é um imbróglio jurídico que esbarra em dificuldades externas compostas pelos depositários de tantos bilhões roubados ao Estado angolano.
Ainda assim, os relatórios internacionais, em várias áreas do desenvolvimento, relacionam sempre Angola como país da linha da frente, um último acaba de colocar o nosso País na vanguarda do desenvolvimento hospital primário e científico, constatando-se efetivamente a falta de quadros, mal que se arrasta de muito longe, mas que também tem evoluído, embora não o suficiente. Mas Roma e Pavia não se fizeram num dia.
A meu ver, é hora de deixar de remendos e viabilizar um recomeço radical, temos de entregar a gestão sectorial ao mérito, isto só pode ser contemplado pela implantação e concretização da Nova República.