Inactivos portugueses

ByAnselmo Agostinho

13 de Julho, 2024

A imprensa portuguesa está a anunciar com júbilo que o país se está a livrar de Isabel dos Santos, a propósito da venda do Eurobic aos espanhóis do Abanca, no passado dia 11 de Julho. A hipocrisia sempre presente. Muito provavelmente, os que agora jubilam são os mesmos que em 2006 acolheram Isabel dos Santos de braços abertos. Mas não é isso que interessa.

O que interessa é que é mais um activo angolano que se perde em Portugal. Angola vai perdendo influência no antigo colonizador, enquanto as elites angolanas buscam acolhimento no mesmo colonizador. É uma situação de dupla fragilidade.

Esta venda do Eurobic coloca duas questões, uma específica sobre o negócio, e outra mais geral acerca da presença angolana nos negócios em Portugal.

1-Comecemos pela específica. O que aconteceu ao dinheiro (mais de 120 milhões de euros) que os espanhóis pagaram pela parte de Isabel dos Santos?

Ficou arrestado?

E em caso afirmativo, à ordem dos processos portugueses (Rosário Teixeira) que poderão em breve ser arquivados e o dinheiro entregue a Isabel?

Ou à ordem dos processos angolanos? Caso em que há uma decisão do Tribunal da Relação português a dizer que os fundos de Isabel primeiro servirão para pagar dívidas aos bancos portugueses e só depois irão para Angola.

Ou, terceira hipótese, os fundos foram já entregues a Isabel?

Fica aqui a questão, esperando que a PGR de Angola responda. Este não é um assunto secreto, mas de interesse público.

2-Em geral, é com muita angústia que vemos a diminuição do potencial estratégico angolano em Portugal.

Os seus dois principais activos em Portugal (GALP e Millennium BCP) parecem abandonados à sua sorte, não se exercendo qualquer influência económica e diplomática através deles.

O restante vai sendo apropriado pelo Estado português, por empresas portuguesas ou por concorrentes espanhóis.

Como dizia, muito bem, um internauta angolano: “A presença angolana na economia portuguesa era um factor de influência política e diplomática. Com esta saída, Angola perde força e influência. O Estado deveria estar acima de qualquer interesse!!!”

Este é o problema. Angola, do ponto de vista político e económico e de influência definha em Portugal, e ninguém defende com veemência os seus interesses.

A Nova República tem de agir !