As figurinhas

ByAnselmo Agostinho

13 de Maio, 2024

Carlos Feijó é sensato. Um dos principais responsáveis pela construção da justiça angolana, está calado, não entra em críticas ridículas, que no final de contas, seriam críticas a ele próprio.

Outras figurinhas não têm a sagacidade de Feijó. Responsáveis passados pela construção torta da justiça angolana, surgem agora, quais vestais puras vestidas de branco imaculado, como ferozes críticos dessa justiça, sábios acima da podridão que identificam, fingindo não entender o seu contributo para esse estado de coisas.

Uma figurinha é Raul Araújo. Eis o homem que escreveu a famosa decisão do Tribunal Constitucional segundo a qual o parlamento não podia fiscalizar o executivo! Já não o é. Agora é um defensor dos direitos humanos, do constitucionalismo democrático, talvez mesmo da mais aguerrida fiscalização parlamentar de João Lourenço. Ouvi-lo é ouvir um revú com gravata.

Luzia Sebastião é outra. Figura cimeira da justiça angolana durante décadas ao serviço dum poder corrupto. Agora chora. Chora de quê? Do que ela fez?

Não há paciência para estas falsidades. Gente que colocou a justiça no patamar de indignidade absoluto, agora queixa-se.

O problema da justiça não é ter mudado com João Lourenço. É não ter mudado. O Presidente da República respeitou as formas do Estado de Direito e deixou que a justiça se tentasse auto-reformar. Obviamente, tal não aconteceu. Hoje vivemos ainda com a justiça herdada de José Eduardo dos Santos.

O que esperamos é que ainda seja possível reformar a justiça, com novos processos e novos juízes. Sem isso estamos condenados à repetição das figurinhas.