O ilusório problema da Liberdade de imprensa em Angola

ByAnselmo Agostinho

6 de Maio, 2022

Em Angola há liberdade de imprensa. Há liberdade de imprensa como nunca houve. Isso mesmo foi reconhecido pelo Índice Mundial da Liberdade de Imprensa dos Repórteres Sem Fronteiras que subiu quatro pontos a Angola, recentemente. O país está melhor do que o Brasil.

Diga-se que estes Índices não são de grande valia. São mais um símbolo que as oposições costumam utilizar para atacar o governo, que agora lhes saiu mal. Por isso, mesmo o porta-voz avençado da UNITA-ACJ veio logo dizer que Angola tinha subido apenas pelo facto de não ter morto jornalistas. Parece que o homem queria que jornalistas tivessem sido mortos em Angola, para assim poder gritar contra o governo. Deu-se mal.

Vamos ser sérios e falar sobre a liberdade de imprensa em Angola, para além da desinformação que hoje predomina nas redes e nos discursos da oposição UNITA-ACJ.

A liberdade de imprensa tem de ser vista abrangendo todo o sistema mediático angolano. É da avaliação do que se passa em todo o sistema que se pode tirar uma conclusão sobre a existência ou não de liberdade em Angola.

O sistema mediático angolano tem quatro componentes: a media estatal (Jornal de Angola, TPA, etc), a media privada em meios tradicionais (Novo Jornal, Expansão, etc), a media estrangeira com programas para Angola (DW, VOA, RTP África) e as redes sociais com blogs e jornais digitais (Club-K, Angola24 Horas, MakaAngola, e páginas de Facebook, etc).

A media estatal assume uma postura pró-governo, na sua generalidade. Isso não é negativo. Todos sabem com o que contam e há transparência nessa postura. É um dado adquirido, e como se constatará de seguida tal posição contribui para o pluralismo global da comunicação social.

A media privada em meios tradicionais tendem para a oposição e é uma voz globalmente crítica do governo. Há aqui uma espécie de compensação privado-público que reforça a liberdade.

Por sua vez, os media estrangeiros são claramente anti-governo. Raramente chamam alguém com posições a favor do governo para comentar e dão voz a activistas que só são conhecidos por eles próprios e mais ninguém. Na realidade, há uma interferência clara da media estrangeira e uma parcialidade bem notória a favor da oposição. Geralmente são um mero eco das oposições mais radicais.

Finalmente, as redes sociais. A oposição predomina. O Club-K tornou-se porta-voz da UNITA-ACJ, o Angola24 Horas faz o mesmo e muitos outros. O MakaAngola procura ser imparcial, umas vezes consegue, outras vezes não. O Governo também tem os seus apoiantes. No fim de contas, as redes são um local plural, e ainda bem.

Fazendo um balanço o que se vê é que nuns meios existe a vitória do governo, noutros da oposição, o que quer dizer que a pluralidade abunda. São falsas e muito falsas as acusações de falta de liberdade.

Digo também, como jornalista que já trabalhou em Portugal e em França, que pelo menos em relação a Portugal, há, no geral, menos liberdade de imprensa do que em Angola. Os insultos que se fazem diariamente a João Lourenço seriam impensáveis em Lisboa. Aí a imprensa é dominada por grupos económicos geralmente com pouco capital que dependem do Estado para financiamento. Há uma corrente principal de notícias e abordagens que tudo domina. Viu-se isso com o Covid-19 e agora com a guerra da Ucrânia. Em Portugal, não há de longe nem de perto a discussão viva que se assiste em Angola.

Há que ver bem a verdade e não encher o mundo com mentiras sobre Angola.