Tolos perigosos e o golpe da Guiné-Conacri

ByTribuna

8 de Setembro, 2021

Com os seus defeitos, o Presidente Alpha Condé era um antigo lutador da oposição eleito constitucionalmente para exercer o seu mandato, além de ter ganho as primeiras eleições democráticas do país em 2010. Desde 2010, que o PIB do país crescia acima dos 3%, alcançando valores acima dos 10% em 2016 e 2017.

Portanto, aqueles que em Angola comemoram um golpe de Estado levado a cabo por forças militares especiais na Guiné-Conacri deviam pensar duas vezes. E pensar se é o que pretendem para Angola, mais sangue e tiros. Começa a existir nalguma opinião pulsão publicada em Angola um apelo à violência e golpismo que é pouco saudável, além de provavelmente ser criminal. 

A história do que se passou na Guiné-Conacri é bem diferente do que os exaltados angolanos pensam. É aliás um exemplo do que não deve acontecer.

Tudo começa com o magnata israelita Benny Steinmetz que havia jurado derrubar Condé desde a expropriação das suas duas concessões de mineração de ferro Simandou, em setembro de 2011. Segundo alguns, esta medida de Condé foi realizada para beneficiar outros amigos do filho e tratou-se de um verdadeiro confisco industrial de Condé contra Steinmetz. O facto é que os dois se tornaram inimigos e desde 2013, ocorreram vários litígios em tribunais internacionais, e muito dinheiro de Steinmetz jorrou para obter simpatias das elites guineenses contra Condé.

A situação agudizou-se nos últimos tempos. Há um mês, o antigo Presidente da República Francesa Nicolas Sarkozy foi a Conacri. Vinha numa missão a favor de Steinmetz tentando convencer Condé a chegar a um acordo amigável. No final da reunião, Sarkozy saiu muito aborrecido pois não tinha conseguido obter garantias de Condé. Isto é, Steinmetz continuava sem acordo e sem minas. Terá sido esta falta de acordo que colocou em marcha o golpe?

Refira-se adicionalmente que o coronel Mamadi Doumbya que liderou o golpe é um antigo membro da Legião Estrangeira francesa, portanto, treinado e habituado a seguir ordens de França.

Parece, pois, que haverá mais no derrube de Condé do que um mero levantamento democrático das forças especiais. Mais certamente, as forças especiais podem ter atuado a mando dos oligarcas, o equivalente aos marimbondos angolanos. Por isso, muito cuidado com os paralelos e comparações.