Andamos num tempo de gritaria. Qualquer ideia do governo é à partida condenada sem discussão. Se no passado, se poderia acusar o MPLA de querer dominar toda a opinião, agora os termos do discurso inverteram-se. Tudo o que vem do governo é mau e criticado. Esta postura é negativa num momento em que o governo tenta corrigir efectivamente os erros do passado e lançar uma nova visão.
A tolerância e o benefício da discussão racional devem ser dados quando se trata de políticas públicas de médio-prazo que definirão o futuro do país.
Vem isto a propósito da discussão acerca do metro em Luanda. Ainda o governo não tinha acabado de anunciar a medida e esta estava condenada.
Não pode ser assim. Há boas razões para avançar com o metro em Luanda.
A primeira razão é a óbvia: o desenvolvimento. Para um país se desenvolver necessita de infra-estruturas. Essas infra-estruturas são de vários tipos. Em Angola, é necessário infra-estruturas na área do saneamento básico, da energia e águas, e dos meios e vias de comunicação. O governo tem de estabelecer as suas prioridades dentro destas infra-estruturas. Não poderá ir tudo para saneamento básico ou para água. Há uma repartição dos recursos sempre escassos. É evidente que a capital Luanda com milhões de habitantes e trabalhadores necessita de transportes públicos. Os transportes para a população são uma prioridade como o saneamento básico. Do que adianta construir escolas ou hospitais, se não há meios para lá chegar? Por isso, é errado dizer que há outras prioridades e os transportes dentro de Luanda não são uma prioridade. São, como as outras. O que o governo tem de fazer é afectar os recursos a cada uma destas prioridades.
Maiores investimentos em todos os tipos de transporte público ajudam a impulsionar a economia urbana de países em desenvolvimento. O caso do Japão é ilustrativo a esse respeito. No período pós-Segunda Guerra Mundial, o governo japonês desempenhou um papel fundamental no transporte urbano ao adoptar políticas públicas que desencorajaram uso do automóvel, centralizando o investimento no transporte público. O sistema de transporte urbano japonês contribuiu para o rápido crescimento económico, minimizando os custos agregados de transporte, restringindo o consumo de automóveis particulares, e incentivando à poupança.
A segunda razão liga-se ao planeamento urbano: a melhoria da qualidade de vida na cidade e a sua sustentabilidade. No espaço de apenas algumas décadas, áreas urbanas em todo o mundo, tanto em países desenvolvidos quanto em desenvolvimento países, foram dominadas por automóveis. Nos países em desenvolvimento em particular, as cidades experimentaram um rápido crescimento nos desafios relacionados com o transporte, incluindo poluição, congestionamento, acidentes, declínio do transporte público, degradação ambiental, mudanças climáticas, esgotamento de energia, intrusão visual e falta de acessibilidade para os pobres urbanos. Luanda é um exemplo típico disto. Por isso, as autoridades empenharam-se em encorajar modos de deslocação não motorizados, criando zonas para pedestres e limitando o uso de carros particulares, tentando desfazer a transformação das cidades causada pelo domínio do automóvel. É neste contexto que surge a necessidade do metro.
Há uma terceira e última razão para este projecto. É que o parceiro principal é a Siemens. Uma das maiores empresas alemãs, conhecida pela sua capacidade técnica, que por força da actual lei germânica e europeia já não pode alinhar em práticas corruptas. A Siemens AG, é um conglomerado industrial alemão, sendo o maior da Europa e um dos maiores do mundo. A Siemens AG e as suas subsidiárias empregam mais de 360 000 pessoas em 190 países e sua receita é superior a 100 mil milhões de dólares. A Siemens AG está listada na Bolsa de Frankfurt desde 1897, estando também listada na Bolsa de Valores de Nova Iorque desde 12 de março de 2001.
Temos assim uma qualidade técnica e corporativa que deve ser aproveitada por Angola, exigindo obviamente a respectiva transferência de Know-how.
É por estas razões que o Metro de Luanda deve ser levado a sério.