Daniel Martinho fala da “cor da cultura”

ByTribuna

16 de Junho, 2021

O ator luso-angolano Daniel Martinho, de 58 anos, um dos mentores e fundadores em 2009 da única companhia negra de teatro, chamada Griot, que se estabeleceu em Lisboa, Portugal, revela à Tribuna de Angola como o meu artístico português ainda tem cor.

À margem das filmagens do telefilme ‘Os Vivos, o Morto e o Peixe Frito’, baseado na obra homónima do prosador e poeta angolano Ondjaki, Daniel Martinho afirma que “existe matéria-prima para se trabalhar em conjunto (entre brancos e negros)” e defende ser “preciso haver boa vontade dos meus culturais portugueses e africanos para se avançar”.

Martinho acredita que ainda é preciso “extravasar algumas barreiras que nos cercam”, classificando-as como: “Múltiplas”. E deu como exemplo o que já lhe descreveu um colega africano que faz direção de atores: “’Antigamente queixávamo-nos de que não tínhamos representatividade. Havia queixas de que não nos chamavam e agora que diriges atores porque não me chamas?’, disse-lhe eu. Ele respondeu-me que indicou o meu nome e quem manda perguntou-lhe se não havia outro ator para fazer isso… E eu percebi. Infelizmente não são os diretores de atores quem decide”, conta, resignado.

O conceituado ator angolano, que desempenhou o papel do escravo Sebastião nas roças de São Tomé, na série ‘Equador’, assume que a companhia de teatro Griot foi “um ‘grito do Ipiranga’” e muito por culpa do seriado da RTP baseado na obra homónima do jornalista Miguel Sousa Tavares. “Estivemos juntos na série vários atores negros. Foi uma experiência boa e no final concordámos: Nós queremos continuar! E criámos a Griot”, relata.

LIVRO COM HISTÓRIAS DE ATORES

Quanto ao livro ‘Os Vivos, o Morto e o Peixe Frito’, Daniel Martinho esclarece que as histórias escritas por Ondjaki foram quase todas relatadas por ele e pelos seus colegas e amigos atores africanos. “Fomos nós que lhe contámos estas histórias. Depois ele compilou e resultou neste livro. Nós já passámos este texto para teatro radiofónico e foi hilariante”, revela, em exclusivo.

O conhecido ator angolano elogia ainda o trabalho que está a ser feito pela atriz e realizadora Daniela Ruah, que pegou nesta obra e a adaptou à televisão. “Tem a sensibilidade de uma atriz. Já chorámos, já rimos. A ‘Dan’ fez a coisa de uma forma tão escorreita que nem sentimos a presença dela. Ela só diz que é mais para ali, ou mais para aqui, nós subimos e está feito”, remata, com um sorriso rasgado.