Ator Sílvio Nascimento reage ao sucesso do filme Santana na NetFlix: “Há um processo antigo de estupidificar o angolano”.
Santana, o filme escrito e realizado por Maradona Dias dos Santos, foi a primeira longa-metragem angolana credenciada e exibida pela plataforma de streaming NetFlix e projetou, pela primeira vez, com gigante sucesso, uma produção angolana a nível internacional.
A película conta a história de dois irmãos que procuram o homem – Makimba Ferreira, o líder da maior organização do crime de Angola e de toda a África Central – que lhes matou os pais. O enredo inclui traficantes de droga, bruxas, traições e vinganças, bem ao estilo dos filmes de ação policial.
Nas primeiras semanas de exibição nesta plataforma, em finais de Agosto de 2020, Santana esteve entre os dez filmes mais vistos a nível mundial e chegou a ocupar o 4.º lugar entre os favoritos no Brasil.
Sílvio Nascimento, um dos atores angolanos com maior sucesso no momento, deu uma entrevista ao podcast ConversaA2 onde mostrou orgulho pelo grande feito do cinema angolano, mas aproveitou para criticar um certo imobilismo crónico que dura há muitos anos no seu meio cultural.
“É bom perceber que não somos maus”
“Angola está de parabéns e foi dado um grande passo. O sucesso só aconteceu agora porque só agora alguns angolanos conseguiram furar algumas barreiras”, diz, salientando que tal aconteceu apenas porque “apesar de Santana ser um filme angolano, leva também um selo sul- africano. Só assim conseguimos entrar. É mau ser só assim, mas é bom perceber que não é por sermos maus”.
Para o ator, que em Portugal deu cartas em filmes como Linhas de Sangue e nas séries O Clube (SIC/OPTO) e Até Que a Vida Nos Separe (RTP), o atraso angolano na conquista de posições de destaque na cena cultural mundial deve-se “ao facto de as pessoas que deviam fazer com que chegássemos lá não se movem”.
Sílvio Nascimento é mais crítico e audaz nas declarações que faz, principalmente na senda do sucesso internacional do filme Santana ao rematar: “Há um processo antigo de estupidificar o angolano. De transformar o angolano em incompetente. E isso é o que se promove. Temos angolanos bons nas suas áreas, das ciências às artes e à cultura”.