A ameaça do terrorismo islâmico está já nos países vizinhos de Angola. Não surpreende que tente chegar ao país ou já existam infiltrações nos descontentamentos violentos.
Recentes notícias vindas de Moçambique indicam que a guerrilha instalada no Norte do país, fomentada por indivíduos ligados a organizações terroristas islâmicas está a alargar-se à Tanzânia. A Voz da América dá conta que as autoridades tanzanianas anunciaram terem detido algumas das pessoas que estiveram envolvidas no ataque dos insurgentes, no dia 14 de outubro findo, a uma localidade tanzaniana. O mesmo meio de comunicação social acrescenta o comentário de um académico, segundo o qual: “Os insurgentes, com estes ataques, estão a querer internacionalizar o problema, assim como implantar-se no solo tanzaniano, se é que ainda não estão implantados.”
Há uma cada vez maior internacionalização do terrorismo islâmico em África, que vai passando despercebido no resto do mundo, sobretudo no meio da pandemia Covid-19.
Muitos académicos e estudiosos como Joseph Hanlon afirmam que este fenómeno não pode ser denominado islâmico, pois a religião não é a sua marca fundamental. A sua qualificação estará mais ligada à pobreza e à influência do narco-tráfico e outras organizações criminosas.
Na verdade, esta discussões acabam por ter pouco relevo prático. É evidente que o apelo “islâmico” e o terror que fomenta é uma espécie de marca que os terroristas adoptam e também é evidente que a pobreza e o sentimento de exploração são os motivadores desse terrorismo.
Há uma espécie de confluência entre insatisfação social e pessoal, e a mensagem assertiva e intimidante que a pertença a uma organização terrorista islâmica assegura. Por toda a África, células terroristas islâmicas estão em acção expandindo-se paulatina, mas seguramente por todo o continente. No Mali e na zona do Sahel, no Norte de África a presença francesa no combate aos terroristas islâmicos é uma realidade quotidiana. Na Nigéria o Boko Haram continua a fazer estragos e o governo mantém-se impotente para terminar com a sua ameaça. Mais uma vez, alguns autores (Sheriff Folarin) afirmam que nem o Boko Haram ou o Estado Islâmico (EI) na África Ocidental são nigerianos ou muçulmanos. Parece existir uma espécie de apropriação religiosa e cultural com vista a construir uma narrativa de terror baseada numa imagem do Islão divulgada pela Al-Qaeda e pelo Daesh.
Facilmente se vê que a geografia africana do terrorismo islâmico vai cercando Angola. A Leste, Moçambique e a Tanzânia estão envolvidos em refregas com terroristas islâmicos. A Norte o mesmo já está pelo menos na Nigéria, e abalando fortemente o Mali e o Níger.
O problema maior é que na República Democrática do Congo (RDC) também já existem manifestações várias do terrorismo islâmico. O primeiro ataque reivindicado pelo EI na República Democrática do Congo (RDC) ocorreu na quinta-feira, 18 de abril de 2019 em Bovata, perto da cidade de Beni, em Kivu do Norte. Nesta ocasião, o EI declarou a “Província da África Central” do Califado, após 2 soldados congoleses e um civil serem mortos num tiroteio. No entanto, uma província centro-africana já havia sido mencionada por Al-Baghdadi em Agosto de 2018, o que significa que é possível que o Estado Islâmico na Província da África Central já existisse há quase um ano, antes do EI publicamente atribuir um ataque a este ramo. Tal ter-lhes-ia dado tempo suficiente para reunir lutadores, organizar e planear ataques, antes de revelar oficialmente sua existência. Outro grupo islâmico na RDC é o ADF. Originalmente tratava-se de um grupo armado criado no Uganda fundado em 1995, reunindo movimentos de oposição ao presidente Yoweri Museveni. Era o resultado de uma fusão entre o Tabliq de Uganda, o movimento muçulmano armado e remanescentes do secular Exército Nacional para a Libertação de Uganda (NALU). Em 1995, os militares regulares do Uganda invadiram as bases Tabliq, forçando-os a fugir para a RDC, onde se uniram à NALU para formar o ADF. Embora ADF sempre tenha tido raízes islâmicas, ao longo do tempo assumiu muitas faces, que vão do salafismo ao nacionalismo secular, etno-nacionalismo e secessionismo, cada um com um propósito diferente e visando diferentes públicos. Hoje, o grupo parece ter assumido uma posição radical islâmica.
Face a este cerco, não admira que Angola se deva preocupar com a possibilidade séria do surgimento do terrorismo islâmico no seu território.
O problema não estará tanto nas comunidades muçulmanas pacíficas existentes no país, mas no aproveitamento pela propaganda e meios logísticos do EI e entidades similares do descontentamento que grassa nalguns sectores, tornando-os em pasto fértil para recrutamento de terroristas ditos islâmicos.
O fenómeno que se tem assistido em toda a África é o do oportunismo do terrorismo islâmico que busca a insatisfação para se instalar.
Os seus recrutas podem ser cristãos convertidos, pessoas sem religião, é indiferente.
Como se vê em Moçambique ou na RDC as organizações terroristas assumem várias faces, as que melhor satisfazem os seus objetivos. A marca “islâmico” é a marca de terror, que assusta a população e as autoridades.
Não admiraria que em muitas das agitações mais violentas que se tem assistido em Luanda nos últimos tempos houvesse já algumas infiltrações de elementos do EI seguindo a estratégia que estão a adoptar noutros países.