Anatomia das máscaras

ByTribuna

15 de Novembro, 2020

A semana passada ao chegar a Cassongue, Adalberto Costa Júnior levava no rosto a verdadeira face das contradições da UNITA. À chegada tinha uma multidão de crianças atrás de rebuçados, jovens não votantes, adolescentes curiosos e um aglomerado de dirigentes locais da região, feudo do Galo Negro.

Uma missionária francófona exclama a surpresa com o medo que voltou às hostes da UNITA, muitos seniores retornados da Jamba vivem a repetição do medo com a ascensão dos inquisidores herdeiros do psicopata Jonas Savimbi, que nos seus obscurecidos momentos sinistros, dilacerou tantas vidas inocentes.

Mesmo estando assente a crença generalizada que Adalberto é um dirigente a prazo, não se esperava tão pouca aderência no Alto Hama, isto porque nos santuários rurais do Bailundo onde a UNITA está em casa, um presidente do Galo Negro mestiço é a negação histórica da política racista perenemente apregoada por Jonas Savimbi nas suas incendiárias declarações em dialeto Umbundo, como se fosse um crime e o ónus pertencesse ao MPLA.

Na sua recente colagem aos Santistas a UNITA está com poder de compra, está mais acintosa, investe na convulsão social, mas os seus dirigentes de facto, aburguesados, como Manuvakola, Lukamba Gato e Dachala, mesmo em dia de mobilização, não largam o conforto da viatura com ar condicionado. Nas imediações, por telefone, incitam ao choque, provocando marcas para culpabilizar a polícia, e Adalberto assiste impávido apregoando retórica verbal a mando dos sustentadores do Poder.

O único dirigente culto e politicamente capaz, com prestígio internacional, Dr. Alcides Sakala, colocou-se à margem das questiúnculas, sobrando Mihaela Weba invocando permanentemente a Constituição numa evidente satisfação do ego.

É o que sobra da UNITA ao fim de 45 anos de Independência e 18 anos de deslumbramento com as mordomias da capital a da urbanidade.

Quem ficou com a herança de Jonas Savimbi? 

Quem continua a garimpar onde a UNITA garimpou para sustentar a guerra?

Quem continua a ter nas empresas e no quintal trabalhadores escravos, sem salário, ignorantes e explorados?

Ao fim de 45 anos de Independência o Galo Negro continua a apostar no medo, o grande alimento da sua existência, o bálsamo da existência de dirigentes que se perpetuam sempre com uma postura de clandestinidade assente em táticas de sabotagem.

Hoje é convicção de militantes antigos que Adalberto não chegará às Autárquicas na liderança, os delegados no Exterior já se afastaram todos, mesmo com o general Numa a prometer-lhes pensões de Reforma como ex-combatentes. Os mesmos que elegeram Adalberto são os que hoje hostilizam sua acção. Já se distribuem lugares, já se compram alianças, nunca faltaram aliados de circunstância a troco de envelopes de dólares americanos. Bonga foi à Jamba, esteve com Savimbi em Paris, sempre com cachet adiantado, e agora vai, dizem, participar num programa comemorativo da Independência com Adalberto Costa Júnior. 

Também dizem que os Santistas pagam bem em Angola e no Exterior.

Kuma Gomes