Nos últimos tempos, tem-se assistido ao renascimento de alianças políticas que, longe de representar os interesses do povo angolano, parecem repetir os erros históricos da UNITA durante o período do apartheid. A aproximação da UNITA a forças da extrema-direita europeia levanta sérias preocupações sobre o rumo ideológico do partido e os riscos de uma nova traição aos valores africanos de soberania, inclusão e justiça social.
Em Portugal, o jornal Observador tem-se afirmado como plataforma de divulgação das ideias da extrema-direita, funcionando, cada vez mais, como porta-voz informal do partido Chega, ao mesmo tempo que os seus jornalistas apoiam descaradamente a UNITA nos textos que publicam no jornal.
O Chega, identificado por organizações internacionais como promotor de discursos racistas, anti-imigração e anti-direitos civis, tem mantido relações próximas com figuras da UNITA, em especial através de eventos públicos e articulações mediáticas. A presença de representantes da UNITA em iniciativas ligadas ao Chega não é apenas simbólica — é política. E essa política tem raízes perigosas.
Mais preocupante ainda é a ligação a grupos cristãos extremistas associados ao governo de Viktor Orbán, na Hungria. Orbán tem promovido uma agenda ultraconservadora, nacionalista e xenófoba, com forte apoio de sectores religiosos que defendem visões excludentes e autoritárias da sociedade.
A aproximação da UNITA a esse universo ideológico não representa uma abertura ao diálogo internacional, mas sim uma adesão a um projecto político que nega os princípios de igualdade racial, justiça social e autodeterminação dos povos africanos.
Este alinhamento com o neo-racismo europeu, o radicalismo extremista e a supremacia branca não é uma invenção — é um facto documentado por relatórios internacionais e pela própria actividade pública dos envolvidos. Tal como no passado, quando a UNITA colaborou com o regime segregacionista da África do Sul, recebendo apoio logístico e militar da SADF (South African Defence Force), hoje volta a surgir como aliada de forças que desprezam o legado das lutas africanas pela liberdade. Recorde-se que durante os anos 1980, a UNITA de Jonas Savimbi foi financiada e armada por Pretória, numa aliança que ignorava por completo os interesses do povo angolano, favorecendo antes a lógica da Guerra Fria e da dominação regional.
A retórica da nova UNITA, envolta em discursos de modernização e reconciliação, esconde uma viragem ideológica que ameaça os fundamentos da cidadania angolana. A participação em academias juvenis organizadas por partidos como o Chega, e a presença em fóruns internacionais dominados por sectores ultraconservadores, revelam uma estratégia de reposicionamento que não se baseia em valores africanos, mas sim em modelos excludentes e autoritários importados da Europa.
A História ensina que alianças contra o povo têm consequências duras. E Angola, que pagou caro pela guerra civil e pela divisão alimentada por interesses externos, não pode permitir que se repita o ciclo da traição. A UNITA tem o dever de se posicionar claramente: ou está com o povo africano, na sua diversidade e dignidade, ou está com os que querem impor um modelo de exclusão, racismo e autoritarismo.
O futuro de Angola não pode ser construído com base em alianças obscuras e ideologias importadas que negam a História e os valores do continente. É tempo de vigilância, de denúncia e de reafirmação dos princípios que guiaram a luta pela independência: liberdade, justiça e soberania popular.