As invenções dum jornalista/activista sobre os russos

ByAnselmo Agostinho

13 de Novembro, 2025

A operação de desinformação levada a cabo por cidadãos russos em Angola é real, sofisticada e orientada para sabotar o alinhamento estratégico do país com o Ocidente, em especial a activação do Corredor do Lobito.

A tentativa de descredibilizar essa ameaça, como faz Rafael Marques no seu artigo, ignora um conjunto crescente de evidências que ainda não foram tornadas públicas por razões de segurança e investigação. Ao antecipar conclusões sem acesso a todos os elementos, o jornalista corre o risco de amplificar a própria rede de desinformação que denuncia.

A organização Africa Politology, ligada ao ex-Grupo Wagner e hoje integrada na estrutura Africa Corps, está no centro desta operação. Trata-se de uma entidade sancionada pelo Departamento do Tesouro dos EUA, com histórico de manipulação política, sabotagem informacional e apoio a regimes autoritários em África.

 Em Angola, os seus operacionais distribuíram quantias significativas em moeda nacional e estrangeira, reuniram-se com figuras do governo e da oposição: Higino Carneiro, António Venâncio, Alberto da Costa Júnior, havendo das reuniões destes últimos, actas de, pelo menos, três reuniões, e infiltraram-se em meios de comunicação e estruturas juvenis partidárias. O objectivo era claro: desacreditar o governo angolano, minar a confiança pública no Corredor do Lobito e travar a aproximação diplomática aos Estados Unidos.

O envolvimento de cidadãos russos como Igor Ratchin e Lev Lakshtanov, bem como de angolanos recrutados para produzir conteúdos negativos sobre a governação, revela uma estratégia de guerra híbrida.

Os artigos pagos, os inquéritos manipulados e os perfis políticos falsificados não são meras coincidências. São parte de uma campanha coordenada para influenciar a opinião pública e criar instabilidade social.

A ligação entre esses operacionais e figuras políticas da UNITA e do MPLA reforça a tese de que se procurava associar os principais concorrentes eleitorais a uma cabala internacional, descredibilizando o processo democrático.

A greve dos taxistas, que resultou em mais de 30 mortos e 1200 detenções, não foi espontânea. O comunicado da ANATA apelando ao boicote nacional já circulava nos dispositivos dos operacionais russos dias antes da sua divulgação pública.

A sincronização com conteúdos digitais e apelos à pilhagem em Benguela e Luanda revela uma tentativa deliberada de provocar instabilidade com fins políticos. A acusação não é apenas plausível — é sustentada por padrões já observados noutros países africanos onde a Africa Corps actua.

Rafael Marques, ao sugerir que tudo não passa de uma invenção do regime, ignora que nem todas as provas foram ainda reveladas. A investigação está em curso, e há elementos codificados, testemunhos adicionais e ligações financeiras que permanecem sob sigilo. Quando forem tornados públicos, ficará claro o alcance da conspiração e o papel que certos agentes locais desempenharam — consciente ou inconscientemente — na sua amplificação.

O Corredor do Lobito é um projeto de integração regional e de escoamento estratégico que incomoda interesses estrangeiros. Sabotar esse projecto é sabotar o futuro económico de Angola.

A narrativa de Rafael Marques, ao desvalorizar a gravidade da operação dos russos, corre o risco de validar a própria desinformação que denuncia. Quando todas as provas forem públicas, será evidente que Angola esteve — e está — sob ataque informacional. E que a resposta do Estado, visou proteger a soberania nacional contra uma ameaça real e documentada.