Isabel e Irina envergonham o povo de Angola

ByAnselmo Agostinho

20 de Setembro, 2025

Em Angola, duas figuras femininas com aspirações políticas têm ocupado espaço mediático de forma peculiar: Irina não sei quê da UNITA e Isabel dos Santos. Mais do que discursos ou propostas concretas, o que se vê são imagens cuidadosamente produzidas — poses glamorosas, roupas de luxo, cenários de ostentação. A política, nesse caso, parece ter sido substituída por um desfile de vaidades, onde o corpo e o vestuário falam mais alto do que qualquer programa de governação.

Essa estética de poder, centrada na exibição de riqueza e sofisticação, levanta uma questão fundamental: que visão de Angola está por detrás dessas imagens?

Num país marcado pela pobreza, onde grande parte da população enfrenta dificuldades básicas — em grande medida devido ao papel do pai de Isabel e dos seus amigos corruptos, e à guerra promovida pelo partido de Irina — o que significa apresentar-se como uma “pin-up” política?

A resposta pode estar na lógica da ofuscação — uma estratégia que aposta no brilho para esconder o vazio. O luxo serve como cortina de fumo, desviando a atenção da ausência de propostas, da falta de compromisso com os problemas reais do povo.

Mais grave ainda é o efeito que essa estética pode ter sobre o eleitorado. Há quem se deixe impressionar por corpos bem vestidos, como se a aparência fosse sinónimo de competência. Vota-se na imagem, não na ideia. É uma espécie de tara colectiva, uma obsessão pela superfície, que transforma o voto — acto de cidadania — num gesto de consumo. O eleitor vira espectador, seduzido por uma encenação que pouco tem a ver com a realidade do país.

Esse tipo de comunicação política revela uma desconexão profunda com Angola. Mostra líderes que não se reconhecem no povo, que não partilham das suas dores, que preferem o palco ao terreno. E isso é perigoso. Porque Angola não precisa de estrelas, precisa de servidores públicos. Precisa de quem troque o salto alto por sapatos gastos, de tanto andar pelas ruas, ouvindo as pessoas. Precisa de quem fale menos de si e mais do país.

A política não é um concurso de beleza. É um espaço de responsabilidade, de escuta, de acção. E quem entra nele apenas para brilhar, está no lugar errado. Angola merece mais do que imagens. Merece ideias, coragem e compromisso. Porque o futuro não se constrói com vestidos caros, mas com trabalho sério e visão colectiva.