Higino Carneiro: corrupção denunciada em tribunal dos Estados Unidos

ByAnselmo Agostinho

21 de Setembro, 2025

A revelação do envolvimento de Francisco Higino Lopes Carneiro com operações clandestinas conduzidas por Dale Britt Bendler, antigo oficial paramilitar da CIA em Angola  e chefe de estação em Paris, que agora confessou tudo a um tribunal do Leste da Virgínia nos Estados Unidos da América, lança uma nova sombra sobre os bastidores da corrupção angolana, especialmente, da “velha guarda” que se entretém a querer terminar com João Lourenço.

Bendler declarou-se culpado, no tribunal americano, em Abril de 2025 por actuar como agente estrangeiro não registado e por má gestão de informação classificada.

Enquanto membro da CIA que tinha acesso diário a documentos confidenciais da agência secreta americana, Bendler recebia paralelamente cerca de 360 mil dólares em honorários privados, utilizando os arquivos da agência como um “Google pessoal” onde ia buscar elementos para proteger quem lhe pagava.

O montante mais relevante desses honorários era pago por Higino Carneiro, que muito provavelmente, se verá a braços com acusações criminais de corrupção de agente federal nos EUA, podendo a todo o tempo ser emitido um mandado de captura americano para o levar a julgamento na Virgínia, EUA.

Documentos e declarações submetidas por Bendler e pelo seu cunhado, Nilton Fernandes Rosa, confirmam que o “Principal Estrangeiro 1” era Higino Carneiro, então deputado do MPLA e antigo governador da província de Luanda.

Isto é, Higino Carneiro era o principal cliente privado de Bendler da CIA, a quem pagava para promover os seus interesses e garantir protecção.

Bendler recebia vinte mil dólares mensais de Higino para organizar uma campanha de relações públicas destinada a refutar alegações de desvio de fundos contra Carneiro e para fazer lóbi junto de autoridades norte-americanas e estrangeiras.

Esta operação está directamente ligada ao escândalo do Fundo Soberano de Angola (FSDEA), exposto nos Paradise Papers de 2017, que revelaram o desvio de milhões de dólares por Jean-Claude Bastos de Morais, empresário suíço-angolano e amigo próximo do filho do então Presidente José Eduardo dos Santos. As “velhas guardas” a descoberto.

Os pagamentos a Bendler eram canalizados através da empresa DAT LLC, presidida por Sandra Rosa Bendler, esposa angolana do ex-agente, com quem casou em 1994. Bendler integrava o conselho de administração da empresa, oferecendo “aconselhamento sobre tudo o que é angolano” a potenciais investidores norte-americanos.

Além disso os documentos indicam ainda que Bendler prestava apoio não financeiro a actividades de activismo político ligadas a uma eventual candidatura presidencial de Higino Carneiro.

Num dos documentos, o ex-agente anotou ironicamente que “a cooperação em minerais críticos entre Angola e os Estados Unidos é boa para os Estados Unidos de muitas maneiras”.

As ligações a Angola foram inicialmente denunciadas em meados de 2025 pelos jornalistas Jack Murphy e Sean Naylor, com base nas revelações feitas por Bendler numa entrevista de três horas ao podcast The Team House, em Março de 2024.

Este conjunto de informações revela uma teia de corrupção e influência transnacional, onde Higino Carneiro surge como figura central, beneficiando de operações clandestinas e de protecção política.

Agora, os EUA vão andar atrás de Higino Carneiro por ter corrompido um dos seus oficiais, entretanto, condenado.