Em Agosto de 2025, Angola encontra-se no epicentro de duas investigações judiciais que, embora distintas na origem, revelam pontos de contacto preocupantes.
De um lado, o processo envolvendo cidadãos russos ligados à organização Africa Politology, suspeitos de ingerência política e subversão da ordem constitucional.
Do outro, a investigação sobre o plano terrorista frustrado que visava atentar contra a visita do Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, a Luanda.
Os casos estão em fases diferentes. O primeiro ainda está na fase de averiguação de autores, cúmplices e instigadores. O segundo já está numa fase avançada, após um primeiro julgamento. Agora procuram-se os autores morais.
Ambos revelam uma possível rede coordenada de interesses contrários à aproximação estratégica entre Angola e os EUA.
As autoridades angolanas identificaram elementos comuns entre os dois processos:
a) a promoção de narrativas antiocidentais, contra os EUA e o Corredor do Lobito,
b) a tentativa de subversão da ordem constitucional com o afastamento imediato do Presidente da República, e
c) o envolvimento de indivíduos com ligações à UNITA, seja por acção pessoal ou em nome da organização. A grande questão a ser respondida.
Há também registo da colaboração de activistas e influenciadores digitais que, conscientemente ou não, funcionaram como instrumentos úteis na disseminação de propaganda e desinformação.
A presença de financiamento externo e a instrumentalização de causas sociais para fins políticos reforçam a tese de uma conspiração ampla e articulada.
O caso dos russos, ligados à Africa Politology — considerada por analistas como uma extensão das operações de influência do extinto Grupo Wagner — envolve suspeitas de financiamento ilícito, manipulação de processos eleitorais internos dos partidos e infiltração em estruturas civis.
Já o processo relativo ao atentado contra Biden aponta para uma célula com motivações ideológicas, treinada fora do país, e com ligações indirectas a redes de desestabilização regional.
A coincidência entre os dois processos não é apenas cronológica. Ambos convergem na tentativa de sabotar o realinhamento diplomático de Angola com os Estados Unidos, num momento em que o país procura consolidar parcerias estratégicas e reforçar a sua posição geopolítica.
A investigação em curso procura agora determinar se existe uma estrutura comum por detrás das acções, com ramificações internas e externas, cujo objectivo seria reinstaurar a violência e a instabilidade permanente no país.
As autoridades mantêm reserva sobre os detalhes, mas fontes próximas ao processo admitem que os indícios apontam para uma rede de influência transnacional, com capacidade de mobilização local e objectivos claros de sabotagem política.
Angola, que tem feito esforços significativos para garantir estabilidade e desenvolvimento, enfrenta agora o desafio de neutralizar estas ameaças sem comprometer os avanços diplomáticos e institucionais conquistados nos últimos anos.