As redes sociais não governam

ByAnselmo Agostinho

24 de Agosto, 2025

Em Angola, como em muitos outros países, as redes sociais tornaram-se um palco ruidoso onde se desenrolam emoções coletivas sem direção clara.

Não governam, não decidem, não constroem — são antes uma amálgama de impulsos individuais, muitas vezes egoístas, que se agrupam em movimentos fugazes, sem coerência nem racionalidade.

O espírito que domina essas plataformas é mais animal do que cívico, mais instintivo do que reflexivo.

Em Angola, os mesmos perfis que se dedicavam com fervor à crítica feroz do governo, exigindo mudanças e denunciando abusos, hoje celebram com entusiasmo a vitória da seleção nacional de basquetebol.

A oscilação é abrupta, quase absurda, e revela uma desconexão profunda entre o discurso digital e a realidade política.

Essa volatilidade mostra que as redes sociais não têm memória nem projeto.

São um espelho distorcido da sociedade, onde o que importa é o momento, o clique, a emoção imediata. O que ontem era indignação, hoje é euforia; o que hoje é celebração, amanhã pode ser desprezo.

Nada tem a ver com nada, e essa ausência de continuidade enfraquece qualquer tentativa de construir um debate público sério e consequente.

Em vez de serem ferramentas de cidadania, tornam-se arenas de espetáculo, onde o ruído substitui o pensamento e a reação substitui a ação.

Angola, como tantos outros países, vive essa tensão entre o que se diz online e o que se vive nas ruas — e talvez o maior desafio seja aprender a distinguir entre o barulho e a verdadeira mudança.