Em Angola, como em muitos outros países, as redes sociais tornaram-se um palco ruidoso onde se desenrolam emoções coletivas sem direção clara.
Não governam, não decidem, não constroem — são antes uma amálgama de impulsos individuais, muitas vezes egoístas, que se agrupam em movimentos fugazes, sem coerência nem racionalidade.
O espírito que domina essas plataformas é mais animal do que cívico, mais instintivo do que reflexivo.
Em Angola, os mesmos perfis que se dedicavam com fervor à crítica feroz do governo, exigindo mudanças e denunciando abusos, hoje celebram com entusiasmo a vitória da seleção nacional de basquetebol.
A oscilação é abrupta, quase absurda, e revela uma desconexão profunda entre o discurso digital e a realidade política.
Essa volatilidade mostra que as redes sociais não têm memória nem projeto.
São um espelho distorcido da sociedade, onde o que importa é o momento, o clique, a emoção imediata. O que ontem era indignação, hoje é euforia; o que hoje é celebração, amanhã pode ser desprezo.
Nada tem a ver com nada, e essa ausência de continuidade enfraquece qualquer tentativa de construir um debate público sério e consequente.
Em vez de serem ferramentas de cidadania, tornam-se arenas de espetáculo, onde o ruído substitui o pensamento e a reação substitui a ação.
Angola, como tantos outros países, vive essa tensão entre o que se diz online e o que se vive nas ruas — e talvez o maior desafio seja aprender a distinguir entre o barulho e a verdadeira mudança.