Cara e Coroas

ByKuma

20 de Agosto, 2025

Não tenhamos ilusões, o circo trágico e suicida tem a tenda montada, os números em cena multiplicam-se e sobressaem os fantoches e os contorcionistas, a plateia clandestina e envergonhada aplaude iludida até ao sonho da apoteose.

A sargento Kamalata Numa, especialista em G3, a arma ligeira automática portuguesa, veio mais uma vez como analfabeto político funcional, autêntico néscio, protestar a criação de partidos políticos, normal em democracia desde que preencham os requisitos exigidos pela lei, algo que contraria a ideia do idiota militar, refletindo os fundamentos do partido liderado pelo bacharel tirano psicopata intrujão ACJ “Betinho”, sobretudo neste momento de corrida para as eleições no Galo Negro.

Agora vem a UNITA dizer o dito por não dito, não obstante o protesto no número, o Galo Negro já tinha anunciado a posse dos seus quatro membros na CNE, todavia veio agora afirmar que os seus membros não irão tomar posse, esta mudança advém da perspectiva que o “Betinho” leva na sua viagem à Europa, ou seja, a UNITA pensa que será governo antes de 2027, para atingir esse desiderato nota-se a agitação ruidosa e a preparação de arruaças em vários pontos do país para criar a sensação de caos e medo, e simultaneamente saturação e cansaço ao Senhor Presidente da República.
Esta é a cara da moeda, vamos agora à coroa.

De 1975 a 2017 o sonho e a esperança do Povo foram frustrados pela ambição dos herdeiros do Poder que logo demarcaram as suas coutadas, alimentando-as com similitudes que hoje ninguém está livre de responsabilidades. Uns nada fizeram, outros nada deixaram fazer.

A verdade histórica, e há quem a tenha vivido, é que nada se fez até 2002, a própria Central Hidroelétrica de Capanda, foi boicotada duas vezes pela UNITA, e paralisaram um parque industrial, ferrovias, rodovias, e um património edificado invejável.

Enquanto isto, com o petróleo a 190 Usd$ e exploração de 2.000.000 de barris diários, fizeram ricos milionários, reconhecidos corruptos em todo mundo, e fizeram-se obras vistosas, sem fiscalização, tudo à custa de um monumental endividamento público. José Eduardo dos Santos não deixou o Poder, ele fugiu porque foi confrontado com uma realidade que o colocou num beco sem saída. A Constituição de 2010 foi projetada para a sua fuga ao fim de dois mandatos, ele sabia que o mundo tinha sobre Angola uma rejeição crescente, um desafio gigantesco para João Lourenço, que como estadista venceu já essa batalha.

Mas na UNITA foi igual, a tirania promoveu um saque de recursos naturais sem precedentes, a cotação dos diamantes em Antuérpia foi suspensa pela inundação de mercado, até que a De Beers, fez um acordo com Jonas Savimbi, que rendeu à Jamba mísseis stinger, e armamento sofisticado.
Sempre houve canais abertos entre MPLA e UNITA, havia até telefones satélite com frequências cristalizadas, Jonas Savimbi falava com França N’Dalo, as FALA forneciam combustível, pneus, para manutenção dos camiões soviéticos.

Também Jonas Savimbi fez fortuna, formou todos os seus filhos em França, fazia exames médicos em Paris e na Costa do Marfim, e também ele chegou ao desespero pela sucessivas traições dos seus generais, ao ponto de confiar apenas aos seus, os sobrinhos Salupeto Pena e Ben Ben Pena. 
Só que a moeda com cara e coroa ruiu.

Esta promiscuidade arrasadora para Angola Independente, ceifou a dignidade da cidadania, sepultou a esperança, e a crença e a autoestima dos cidadãos criou uma desconfiança total nas instituições do Estado.

É um facto que João Lourenço implementou um novo paradigma na governação, estancou a sangria no Erário Público, mas há uma aliança de incompatibilidades unidas pelo ódio ao Senhor Presidente da República, que acenam um Ogro, plantam obstáculos, que mesmo com a evidente mudança com a nova dinâmica de desenvolvimento não consegue desanuviar a incapacidade do Estado em atender a todos os cidadãos.

Há um consenso que se alarga a todas as estratificações da sociedade, só uma ruptura total com a desgraça dos últimos 50 anos. Eleição de uma Assembleia Constituinte, seguida de eleições gerais assentes nos moldes plasmados na Nova Constituição. Entendo que face a este desafio, a meu ver, a liderança deve ser de João Lourenço, a vertente internacional e a segurança interna assim exige, quanto ao governo reservo a minha posição.

Uma coisa é certa, há exigências inadiáveis, há tarefas gigantescas como a redução demográfica que asfixia a capital, há desafios que aguardam intervenção que dependem de Pactos Nacionais, temos de criar espaço para a solidariedade, temos de mudar o vocabulário da desgraça, do lamento, para palavras de esperança, de fraternidade, com esforço, dedicação, devoção, devolver o sonho que pode e deve ser matriz de uma Nova República.