Num momento de profunda simbologia nacional, em que Angola celebra 50 anos de independência, o advogado Sérgio Raimundo decidiu recusar a condecoração do Estado angolano. Fê-lo por convicções pessoais, alegando que a distinção honorífica ignora figuras incontornáveis da luta anticolonial como Holden Roberto e Jonas Savimbi, enquanto glorifica exclusivamente Agostinho Neto.
O gesto, embora vestido com o manto da justiça histórica, levanta uma questão maior: quando um cidadão é homenageado pela República — não por uma pessoa, mas por uma entidade que representa a soberania coletiva — a recusa pública da distinção carrega peso institucional.
Ao rejeitar a honraria, Raimundo não está apenas a discordar de uma narrativa ; está a dizer “não” ao gesto de reconhecimento que transcende ideologias, governos e ciclos políticos.
É precisamente aqui que o seu ato perde o brilho da integridade e se aproxima do desonroso.
A República não é João Lourenço, nem o MPLA, nem qualquer partido. É o símbolo da Nação, o reflexo da cidadania coletiva, e a condecoração atribuída é uma extensão desse reconhecimento nacional.
Ao optar por rejeitá-la, por influência pessoal, ou por lealdade a figuras políticas em litígio, Raimundo parece confundir princípios com posicionamentos. Mais grave ainda quando se sabe que é advogado de Isabel dos Santos — algo que levanta legítimas dúvidas sobre a independência das suas motivações.
O cidadão é livre de recusar homenagens, claro.
Mas quando a recusa vem acompanhada de narrativas que favorecem interesses pessoais ou de figuras controversas, isso deixa de ser uma postura ética e passa a ser uma afronta à própria dignidade republicana.
O cinquentenário da independência merecia maior elevação. Raimundo escolheu o palco, mas desrespeitou a República.

