Entre o nada e o troca-tintas

ByAnselmo Agostinho

7 de Julho, 2025

Anunciado como orador da terceira edição das conversas Economia 100 Makas, o líder da UNITA, Adalberto Costa Júnior, prometia uma abordagem centrada nos desafios económicos de Angola.

No entanto, o que se seguiu foi uma intervenção dominada por considerações constitucionais, acusações veladas e um discurso que, apesar de extenso, pouco acrescentou ao debate económico — deixando até os mais simpatizantes sem palavras.

Durante mais de uma hora e meia, Costa Júnior falou longamente sobre a Constituição, revelando ter sido abordado — por emissários não identificados — para apoiar uma revisão constitucional que permitiria um terceiro mandato presidencial.

A denúncia não foi acompanhada de provas concretas, e o próprio líder da UNITA reconheceu que os contactos foram posteriormente negados pelos alegados intermediários.

A sua recusa em apoiar qualquer revisão antes das eleições foi clara, mas o discurso oscilou entre a rejeição firme e a admissão de que uma revisão é “indiscutivelmente necessária” — apenas não agora.

Não sabe o que quer e mente, mente e mente.

A ambiguidade não passou despercebida.

Quando finalmente abordou a economia, Costa Júnior limitou-se a repetir diagnósticos já conhecidos. Apontou números, mas sem fontes claras ou propostas concretas. As ideias da UNITA para a reforma do Estado, educação e boa governação foram apresentadas em traços largos, com palavras de ordem como “despartidarização” e “transparência”, mas sem um plano detalhado ou metas quantificáveis.

Mesmo os objectivos mais ambiciosos — como um salário mínimo justo ou o combate à fome — foram lançados sem ancoragem em políticas públicas específicas ou viabilidade orçamental.

A intervenção de Costa Júnior pareceu mais dirigida aos seus apoiantes do que ao público em busca de soluções económicas. A crítica ao “partido-Estado” e à proliferação de novos partidos como estratégia de dispersão eleitoral desviou-se do tema central do evento: a economia.

No final, ficou a sensação de que o líder da UNITA perdeu uma oportunidade de ouro para apresentar uma alternativa económica credível.

Em vez disso, optou por um discurso político centrado na Constituição — contradizendo a promessa inicial e deixando até os cronistas da casa sem saber como resumir a sessão.

Adalberto Costa Júnior foi convidado para falar de economia, mas preferiu revisitar velhas mágoas constitucionais. Uma crítica ao sistema é legítima sem propostas sólidas e coerentes, um discurso que é mais um eco do passado do que uma visão de futuro.

Oscilou entre o nada e o troca-tintas.