Sempre tive respeito por ele, nunca escondi o meu passado na UNITA, vivi e convivi com protagonistas e transformações, numa fase em que me entreguei por inteiro a uma causa em que acreditava, como muitos, felizmente ainda vivos, sentimos as mudanças, as mentiras, e simplesmente afastamo-nos.
Guardei respeito tempo afora por Geraldo Sachipengo Nunda, homem culto, consumidor de todos os romances de guerra, e homem que viu desaparecer os seus verdadeiros pares que deram corpo à UNITA enquanto Partido Político e às FALA como braço armado partidário.
Jonas Savimbi era líder de um grupo anárquico disperso que, foi para os Acordos do Alvor em busca de benefícios que o pudessem privilegiar pela ancestral subserviência a Portugal, mas na Pátria Lusa, tudo também tinha mudado.
Na UNITA de finais de 1974, havia um grupo composto de improviso liderado por Jonas Savimbi, com um diplomata prestigiado Jorge Sangumba, com o homem do medo N’Zau Puna, com um comandante militar fantasma, Samuel Chiwale, e com um Tony da Costa Fernandes que nunca foi nem carne nem peixe.
No Alvor levou como conselheiro jurídico o advogado Ferreira Fernandes, que tinha o seu escritório no edifício do Hotel Presidente em Luanda.
Foi em 1975 que a UNITA se estruturou, Armando Chilala, Armindo Solunga, Wilson dos Santos, Jorge Valentim, Vakulukuta, Jerónimo Wanga, José N’Dele, Jaka Jamba, deram corpo político, e as FALA foram estruturadas pelo Waldemar Chindondo, Samuel Sachiambo, Demóstenes Chilingutila, e João Batista Tchindande (Black Powel), Muziri. O resto veio por acréscimo, jovens estudantes, militares desmobilizados das Forças Armadas Portuguesas, uns por convicção, outros por Angola, outros ainda apanhados numa teia geográfica sem alternativa.
A UNITA até ao apoio público da África do Sul, nunca foi uma força que tivesse a envergadura que se propagava, ganhou corpo quando a guerra civil se transformou num conflito regional, onde se semearam ódios sem vacilar, e que Sachipengo Nunda sabe melhor que eu.
Não me quero alongar, poderia ser fastidioso, mas surpreendeu-me ter recebido ontem uma propaganda da UNITA disseminada pelos canais habituais, e constatar o ensaio de Nunda a descrever uma UNITA com uma envergadura que nunca teve. Quantos militares compõem um Regimento?
Também verifico uma falha intelectual do senhor general, antes de descrever tamanho elogio a Demóstenes Chilingutila, deveria escrever que é seu compadre, que é padrinho do filho Élingue Chilingutila, e que quando da sua fuga do Huambo o seu compadre tinha programado a fuga consigo. Ou será mentira?
Creio que nos romances de guerra que tanto consumiu, leu que Roma nunca pagou a traidores, e o senhor, sem fazer juízo de causas, traiu uma delas, e entendo que depois de banqueteando à mesa do Poder, não pode vir agora, ainda que por omissão, vestir de novo a camisa da oposição.
Confesso que nunca quis acreditar que Tchizé dos Santos gozava de (passe livre) na embaixada de Angola em Londres, durante o seu consulado.
Agora tenho dúvidas.