Os vários analistas, comentadores e faladores afins apressaram-se a anunciar que o recente Congresso do MPLA tinha consagrado a bicefalia, o que significa que haverá um presidente do partido diferente do candidato da Presidente da República em 2027.
O certo é que nada nos Estatutos agora revistos impõe isso, também não impõe o contrário. Deixa tudo em aberto.
Pessoalmente, e tal como já vi alguns-embora poucos-analistas escreverem, não gosto da bicefalia. Acredito que no final é um sistema que não funciona, sobretudo quando se distingue o partido da República. O MPLA já não é um partido marxista e Angola não é um Estado comunista. Os arranjos em que o chefe do partido manda no governo sem lá estar não funcionam em Estados de Direito Democrático, mesmo que imperfeitos. Como alguém já disse, é o caminho para uma grande trapalhada.
Preferia que se encarasse de frente a hipótese do terceiro mandato, mesmo que isso implicasse uma revisão e consensualização alargada do texto constitucional.
João Lourenço elevou Angola internacionalmente para patamares onde o país nunca tinha estado, é um labor hercúleo e que se deve respeitar e aplaudir.
Agora é tempo da frente interna, de galvanizar o povo, de oferecer ao povo um novo contrato social em que se garanta o desenvolvimento e uma justa distribuição da riqueza. Devia ser este o objetivo dum terceiro mandato, complementar o sucesso externo com um novo contrato social interno.
Qualquer outra alternativa é uma perda de tempo e pode acarretar um novo retrocesso.