Contava eu de mão dada

ByKuma

18 de Fevereiro, 2024

No céu prateado de lua nova,
Quantas estrelas faltavam
Para encontrar essa tal felicidade,
Egoísta e antipática,
No caminho longe da viagem comprida,
Esquivou-se sempre de mim.
Com grilos e rãs em sinfonia,
O sonho engoliu a madrugada,
O galo cantou na Tundavala,
Em prece cheguei com o sol,
À Senhora do Monte,
Aí ferrou a saudade,
Açoitaram as lembranças.
Levei comigo no maximbombo, 
Um recado à nascente do Kwanza,
Para que a correnteza levasse,
A Nossa Senhora da Muxima, 
O tempo enferrujou a memória,
Já não sabia nada de rezas,
Mas com silêncio do meu olhar,
Pedi silenciosamente,
Um sorriso em cada criança de Angola.
Voltei ao caminho dos loengos, dos maboques,
Matei a sede com água pura lavada do Kuiwa,
E no meu chão a mesma gente boa,
Envergonhada por partilhar comigo o que não tinham,
Até que junto à fogueira,
Um velho que não sabia a idade,
Trouxe-me uma massaroca,
E pelo meu pai, rolou uma lágrima de nostalgia.
Terra fértil, água pura, gente boa,
Mas lá longe junto à lavra,
As fronteiras do medo acorrentam,
MPLA e UNITA ainda dividem,
O que Angola não conseguiu juntar.
Ainda deu para ir ver a cacimba no meu quintal,
Desfrutar no crepúsculo,
Aquele pôr do sol pintando o céu da cor do fogo,
Voltei a ouvir o apito do comboio,
Do mar trás o sal para temperar o futuro,
E a história já está ser feita,
De um Tempo Novo.

Kuma Gomes, 2024